Sangue Novo: Uma Antologia — A revolução começou aqui

A antologia Sangue Novo, editada e organizada pelo autor premiado Pedro Lucas Martins, reúne 15 contos de terror em português de 15 autores com vozes, estilos e perfis bastante diferentes. Contudo, e fui descobrindo isso à medida que entrevistava cada um deles, todos reagiram da mesma forma ao convite que lhes foi lançado: surpreenderam-se, mas nem por um segundo pensaram em dizer que não.

Antes, durante e depois do lançamento do livro, a 27 de novembro de 2021 na livraria Ler Devagar, houve uma reação em cadeia que só seria possível num grupo de pessoas que se sente parte de uma comunidade. É esse espírito de iniciativa e de generosidade que sinto que está por trás do sucesso do livro e que contagiou, também, tudo aquilo que queremos fazer com a Fábrica.

Deixem-me, de forma muito resumida, estabelecer a cronologia vertiginosa que pôs o plano do Sangue Novo em marcha. É, permitam-me a ousadia na comparação, a cronologia de uma revolução do terror em Portugal.

Passou menos de um ano entre os primeiros convites aos autores e o lançamento do livro (disponível em e-book, capa mole e capa dura na Amazon, e distribuído em Portugal pelo Projecto Foco, à venda na Loja Convergência, FNAC, WOOK e Bertrand). A ideia já estava na cabeça do Pedro há algum tempo, mas faltava-lhe descobrir quem escrevesse (bem) terror.

O projeto provavelmente teria ficado na gaveta se não fosse o desafio que lhe foi lançado pela Escrever Escrever para criar o curso Escrever Terror, com a sua primeira edição em 2020. Essa turma pioneira reuniu quatro fãs do género, que seriam mais tarde futuros autores publicados: Francisco Horta, Maria Varanda, Marta Nazaré e Patrícia Sá. O interesse desses alunos, um bocadinho os primeiros culpados desta aventura, foi depois replicado em mais edições e levou, inclusive, à criação de um nível 2 e nível 3 (que começa em maio de 2022) do Escrever Terror. À data que escrevo este artigo, já passaram 19 alunos pela sala de aulas, agora virtual.

Aos poucos, o Pedro Lucas Martins foi encontrando os autores de que precisava para organizar uma antologia ao estilo dos, como ele diz na sua entrevista à Fábrica do Terror, «Mammoth Book of New Horror, editados pelo Stephen Jones». Encontrou, também, o designer responsável pela capa e composição do livro, e pela imagem gráfica anti-clichê da Fábrica do Terror: Ricardo Alfaia.

Dias antes da partilha da capa do livro com os autores do Sangue Novo, no verão de 2021, o Pedro lançou-me outro desafio: se eu gostaria de pôr em prática a ideia, que tinha revelado numa entrevista à Escrever Escrever, de «legitimar o terror em Portugal», depois de «A Encarregada» (um microconto de contornos sobrenaturais) ter ganho o prémio europeu de Flash Fiction da EACWP. A conversa informal de meia hora prolongou-se naquela que seria a primeira reunião oficial dos três cofundadores da Fábrica do Terror (na altura, ainda com um nome de código que, afetuosamente, mantemos em segredo).

Quando afirmo, no título deste artigo, que a revolução começou com o Sangue Novo, não o digo de ânimo leve. Com o livro, houve uma corrente de generosidade, de partilha e de querer fazer acontecer que se foi criando entre os autores, o designer e o editor, conscientes de que lançar esta antologia significaria, entre outras coisas,  ser possível criar terror em Portugal, mesmo que os seus autores fossem ainda desconhecidos e que ainda houvesse alguns preconceitos à volta do género (gerados, às vezes, tanto pelos fãs de um «determinado estilo» de terror como por quem diz não gostar de terror).

O sucesso deste livro poderia medir-se em números (as vendas ultrapassaram todas as nossas expetativas), mas prefiro pensar no impacto dele de outra forma: os novos leitores que pode trazer ao género, os novos autores que mostra aos fãs de terror em Portugal e a porta que abriu para que uma Fábrica do Terror pudesse existir e fizesse todo o sentido. Quero, também, destacar dois aspetos importantes. Nesta antologia dez dos 15 contos são da autoria de mulheres. E graças ao incentivo de serem publicados pela primeira vez, nove dos 15 autores já seguiram para outros projetos editoriais.

Entre esses 15 autores também descobrimos o grupo de colaboradores que nos ajudam a criar o conteúdo da Fábrica, e que aceitaram o convite sem hesitar. É esse o espírito desta comunidade do terror.

Ao longo das próximas semanas, vamos publicar as entrevistas a cada um dos autores, a que eu me habituei a chamar de Sanguenovistas, porque sinto que esta revolução precisa de um nome de movimento literário. Se já leram o livro, matam a vossa curiosidade sobre cada um dos escritores, o seu percurso e processo criativo. Se ainda não leram o livro, que as suas histórias vos inspirem a descobri-lo.

O livro Sangue Novo pode ser comprado aqui: