«Apostle», um filme de Gareth Evans
Eu sei que é de 2018, mas as coisas boas não se estragam com o tempo.
Folk horror, body horror e carinhas larocas. Vamos lá a mais uns devaneios da Sessão da Noite.
Por vezes, tenho dificuldade em decidir sobre o que falar na Sessão da Noite. Não é que tenha propriamente falta de bons filmes (apesar de ultimamente estar a desenvolver-se uma seca de chuvas nesta área), mas sim porque tenho a memória de um peixinho dourado e me recuso a fazer post-its como se tivesse demência.
2018 foi um ano certamente abençoado com alguns filmes de terror, uns melhores do que outros, mas a verdadeira bênção foi o filme da plataforma de streaming Netflix: Apostle. E porquê, perguntam vocês? Olhem, a primeira razão é facilmente encontrada no elenco; passo a nomear:
- Dan Stevens
- Michael Sheen
- Dan Stevens
- Lucy Boynton
- Dan Stevens
- Dan Stevens
Conseguem ver um padrão? Eu consigo e é agradável à vista.
Brincadeiras à parte (apesar de estar a falar a sério), Apostle fala-nos da história de Thomas Richardson numa missão perigosa para salvar a irmã, acabando envolvido num culto religioso pagão com muitos costumes duvidosos.
Se a presença de Dan Stevens não foi suficiente, juntem uma bela dose de terror folk com entidades sobrenaturais e terror corporal suficiente para fazer a maioria de nós contrair-se no sofá ou engasgar-se nas pipocas.
É um filme pautado pelo desconforto, do início ao fim, e altamente capaz de originar uma quantidade estrondosa de emoções pelas diversas personagens que apresenta. O desempenho de todos os atores é fenomenal, o que não lhes diz apenas respeito, mas também ao trabalho do realizador e da equipa por trás. As personagens fazem-se acompanhar de mais história do que aquela que vemos e sofrem mudanças ao longo da trama. Acima de tudo, tornam isso claro para o espectador na primeira vez que surgem. Fazem-nos pensar: este tipo tem mais qualquer coisa.
A própria personagem principal surge-nos como um homem pouco amigável, apesar da sua nobre missão, com um ar deplorável e as maneiras de um animal, o que não impede de, no fim, ser revelada não só a sua história de origem, mas também a sua redenção.
Acresce ao excelente elenco uma história bem entrelaçada como uma tapeçaria valiosa, reservando uma reviravolta satisfatória e um sentido de justiça que qualquer espectador acolherá com gosto.
A referir ainda que, além de ter tudo bem estruturado, a obra Apostle se completa com a sua fotografia incrível e com uma aparentemente louvável adequação histórica.
E os significados, Maria? Onde estão os significados?! Meus caros, deixemos uma boa história ser apenas uma boa história.
…
Estava a brincar.
Apostle é, de facto, uma boa história, mas torna-se excecional quando acarreta em si os horrores que o homem faz — por um lado, pela religião e, por outro, pela fome de poder e ganância.
Fala-nos da opressão dos mais fracos, do sacrifício daqueles enganados na busca de uma vida melhor. Fala-nos das desigualdades. Fala-nos, acima de tudo, sobre como, apesar da presença de criaturas sobrenaturais, o verdadeiro monstro é o homem. Fala-nos da violação da natureza em busca de mais. E mais. E mais.
Sendo uma colaboração Netflix, gosto de acreditar que nunca irá sair da plataforma. Desde o seu ano de estreia, aproveito um visionamento pelo menos anual. Nunca me canso. Sugiro que o veja, caro espectador, e espero que também fique longe do cansaço.
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Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.