Sessão da Noite Especial — Dia Internacional do Enfermeiro

Sugestões de filmes e séries para o dia 12 de maio.

Feliz dia do Enfermeiro! Um brinde a uma das profissões mais honrosas e menos valorizadas do mundo. Àqueles a trabalhar, um brinde a um turno CALM—- respirem, não vou dizê-lo, dá azar, mas um brinde a que o seja. Aos sortudos de folga em casa, vamos a mais uma Sessão da Noite?

Maria Varanda

O nosso livro está à venda!

Dia 12 de maio, celebra-se o Dia Internacional do Enfermeiro. Sabem porquê? Porque é o aniversário da querida e mais que falecida Florence Nightingale — a mãe da enfermagem moderna. Foi a revolucionária das camas lavadas, quartos arejados e reforços com gelatinas. Das escolas de Enfermagem. Da estatística na saúde. A dama da lamparina, uma das possíveis origens da tão cunhada expressão «saída de vela». 

Enfim, Florence Nightingale foi muitas coisas, mas era, acima de tudo, Enfermeira. Com E grande. Também lhe atribuo alguma culpa por parte do povinho achar que a enfermagem é uma vocação na sua vertente existencial e que os enfermeiros são almas caridosas que vivem exclusivamente para o outro, sem qualquer direito fora da serventia ao doente. Coitada, limitada às regras sociais do seu tempo. Perdoo-a. Mas estou a divagar.

Da próxima vez que acharem que o enfermeiro é a figura imaculada de vestes brancas que sorri ao ser maltratado, que faz vénia ao doente e ao senhor doutor, tenham vergonha. É mais do que uma profissão — é uma ciência dotada de conhecimento próprio e séculos (muitos!) de evolução. Vocação era quando a enfermagem se prendia às ordens religiosas. Agora, é ciência. E é profissão. Por trás das fardas brancas, estão pessoas. E deixando de vez as divagações, avancemos para o que importa.

Para celebrar essas pessoas que escolheram uma profissão do caraças (perdoem o francês), mal pagas e pouco reconhecidas, dedico-lhes esta Sessão da Noite. Dou-vos filmes e séries com enfermeiras (e enfermeiros) igualmente do caraças — se pelo bem ou pelo mal, fica ao critério de cada um.


Acho que as sugestões de hoje também são capazes de trazer outras discussões à baila, como: «Maria, isto não é terror». Calem-se. Hoje, quem dita o terror são os enfermeiros.


The Good Nurse (O Enfermeiro da Noite)

Comecemos com a sugestão que considero mais «leve», mas que não deixa de ser aterradora. Numa história tão mundana como inacreditável, The Good Nurse (O Enfermeiro da Noite) é baseado nos acontecimentos verídicos à volta do assassino em série Charles Cullen, que usou a sua honrada profissão durante 16 anos para cometer bem mais do que os admitidos 40 homicídios.

Este filme terrível sobre a mente humana distorcida tem a maravilhosa contribuição de Jessica Chastain e Eddie Redmayne, cujos desempenhos elevam o que é um filme slow burner muito intimista.


Não estando categorizado como terror, quem pode, pela história que apresenta, negar que o é?


Misery

Numa outra referência, e como sou eu que estou a escrever este artigo e em todas as minhas sugestões nunca falha o Rei, recomendo Misery. Este filme baseado num livro de Stephen King — que se o amante de cinema também for amante de literatura deve ir imediatamente comprar ou requisitar na biblioteca mais próxima, para uma leitura que deveria ter começado ontem — é um sobre o escritor que se vê à mercê de uma fã, digamos, pouco convencional. E a profissão desta fã? Enfermeira, pois claro. Olá, Annie Wilkes.


O desempenho de Kathy Bates é para lá de soberbo e mereceu-lhe o Prémio da Academia de Melhor Atriz, na 63.ª edição dos Óscares.


Voando Sobre um Ninho de Cucos (One Flew Over the Cuckoo’s Nest)

E um clássico. Para vocês que teimarão em dizer que não é terror, vejam Voando Sobre um Ninho de Cucos (One Flew Over the Cuckoo’s Nest). Também uma belíssima leitura, VSUNDC (para abreviar) conta com Louise Fletcher como a Enfermeira Ratched.


A história é já por muitos conhecida, mas, para aqueles menos atentos, conta a aventura (ou desventura) de R. P. McMurphy (Jack Nicholson), um veterano de guerra que se declara clinicamente inimputável por doença mental e é internado para avaliação num serviço de psiquiatria, onde as suas mestrias de manipulação têm consequências irremediáveis.


Ratched

A série Ratched, da Netflix, não cumpriu os requisitos nem viveu para dar resposta às expectativas que criou. No entanto, sabemos que não podemos negar o sempre exímio desempenho de Sarah Paulson e, por esse motivo, uma menção honrosa à enfermeira baseada na sugestão acima, mas muito, muito mazinha.

Na realidade, todos os filmes e séries que vos poderia sugerir incluem sempre um enfermeiro maluco que mancha a profissão. Ninguém, afinal, escreve histórias de terror e faz do enfermeiro o herói ou a final girl. Mas, como dizia a caríssima editora-chefe da Fábrica numa troca de ideias sobre a presente Sessão da Noite: ser enfermeiro é o verdadeiro terror. E a vossa redatora não poderia concordar mais.