«Still/Born» («O Enviado do Mal»)
Um filme de Brandon Christensen.
É ansiedade, é depressão, é baby blues ou há um demónio atrás do meu filho?
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«Os Melhores Contos da Fábrica do Terror – Vol. 1»
16.50 € (com IVA)Certamente já viram filmes que permaneceram na vossa cabeça durante anos a fio, mesmo depois de se começarem a esquecer de certos detalhes. Still/Born — ou idioticamente traduzido para O Enviado do Mal (um dia dedico uma SdN só às pobres traduções de títulos de filmes de terror e nomearei todos os culpados) — é, sem dúvida, um desses filmes para mim.
Vi pela primeira vez no ano em que estreou e, sim, houve tempos em que a minha moral era mais fluida e o meu computador alvo de várias tentativas de ataque por motivos de visitas a sites menos licenciados. As pessoas crescem, OK? Até eu. Mas, desde 2017, o seu ano de lançamento, que Still/Born caminhou comigo, silencioso nos recantos da minha mente.
Para alguém que diz não querer ter filhos desde a adolescência, tenho um gosto estranhamente forte por filmes que incluam o sofrimento de uma mãe; dá para ver pelo repertório, não é? No meu mundo, a regra é suportar todas as decisões de vida com filmes de terror, e este é mais um desses.
Ouçam, eu não sou propriamente a criatura mais maternal do mundo, mas este filme consegue que até um cubo de gelo sinta cenas. Cenas; isso mesmo. Ninguém disse que, por ser escritora, tinha de ser eloquente.
Still/born, ou O Enviado do Mal (até me arrepio de repetir), traz-nos um conjunto de atores cuja lista de trabalhos fica aquém de parcamente conhecida, mas que ultrapassam os limites do expectável. Há uma dinâmica incrível entre Christie Burke (Mary) e Jesse Moss (Jack) que nos faz sentir tanto a felicidade como a dor destes jovens pais. Também é uma ajudinha que Burke tenha um ar tão pacato e inocente e que Moss interprete um homem de sucesso, carinhoso para o filho e esposa, e cuja apresentação também lava um bocado os olhos (sim, tenho um problema com atores mediocremente bonitos — processem-me).
O filme apresenta a história de Mary, uma jovem mãe em pleno pós-parto que, após dar à luz duas crianças e perder uma à nascença, se vê perante uma entidade sobrenatural que tenta levar o seu filho sobrevivente.
Confesso que não conheço Christie Burke em nenhum outro papel de relevância, mas este, para mim, chegou para mostrar o seu potencial. Em Still/Born, Christie é Mary. É mesmo Mary. A atriz interpreta, pelo menos na minha modesta opinião de não-mãe, o papel de uma mulher no pós-parto com excelência. A espiral decrescente em que Mary se encontra — desde as esperanças de uma vida nova, com uma vida pequenina nas mãos, ao luto de um filho perdido, à depressão pós-parto e à psicose com todas as oscilações pelo meio — é representada a um ponto que quase se poderia dizer real. É o mesmo que dizer: Christie, eu quase acreditei que tinha ficado mesmo louca.
Jesse Moss representa muito bem o seu papel e, ainda que possa parecer algo secundário, é sobre as suas costas que recai todo o peso do final de O Enviado do Mal (ai, a sério…). As emoções que Moss dá a Jack são altamente credíveis, e as expressões faciais comovem, aterrorizam e entristecem no momento certo. Denotem a saída do quarto de hospital, já talvez a ¾ do filme, na resposta à sua esposa doente, ou no clímax da longa-metragem, quando Jack retorna do hospital e entra em casa a segurar o filho para uma surpresa nada agradável. Se não fizer os vossos corações vacilar só um milímetro, parabéns: são mais horríveis do que eu.
Still/born também traz um pouco de mitologia, e quem segue a Sessão da Noite já tem uma leve ideia de que isso dá sempre uns pontos extra para adquirir o selo de aprovação (inserir foca fofinha em jeito de graça). A mitologia dos filmes de terror merecia toda uma coluna própria, mas ninguém ia aguentar as minhas longas divagações sobre a temática, confessemos, já é difícil seguir o meu raciocínio na SdN.
Aviso: há cenas que podem não ser fáceis de ver, ainda que poucas e curtas, mas recomendo alguma discrição a quem tenha particular sensibilidade a terror que envolva bebés. O final também não é para todos — a sua ambiguidade dava pano para mangas.
Sim, alguns de vocês vão ter muita coisa negativa a dizer. Porque os efeitos especiais isto e as personagens secundárias aquilo. Talvez alguns de vós até sejam em parte culpados pela medíocre classificação de 5.4 no IMDb. A vossas excelências tenho apenas a dizer, em bom português: vão ver se está a chover.
Para os que ainda não conhecem Still/Born, recomendo vivamente, caso ainda não tenham percebido. E antes que ponham os vossos computadores e a vossa moral em risco, como eu ingénua outrora fiz, Still/Born está disponível na plataforma de streaming FilmTwist.
Até à próxima Sessão da Noite, muitos sustos e fortes pesadelos.
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Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.