«Still/Born» («O Enviado do Mal»)

Um filme de Brandon Christensen.

É ansiedade, é depressão, é baby blues ou há um demónio atrás do meu filho? 

Maria Varanda

Gostas de ler? Aqui, encontras os melhores contos de terror! 


Certamente já viram filmes que permaneceram na vossa cabeça durante anos a fio, mesmo depois de se começarem a esquecer de certos detalhes. Still/Born — ou idioticamente traduzido para O Enviado do Mal (um dia dedico uma SdN só às pobres traduções de títulos de filmes de terror e nomearei todos os culpados) — é, sem dúvida, um desses filmes para mim.


Vi pela primeira vez no ano em que estreou e, sim, houve tempos em que a minha moral era mais fluida e o meu computador alvo de várias tentativas de ataque por motivos de visitas a sites menos licenciados. As pessoas crescem, OK? Até eu. Mas, desde 2017, o seu ano de lançamento, que Still/Born caminhou comigo, silencioso nos recantos da minha mente.
Para alguém que diz não querer ter filhos desde a adolescência, tenho um gosto estranhamente forte por filmes que incluam o sofrimento de uma mãe; dá para ver pelo repertório, não é? No meu mundo, a regra é suportar todas as decisões de vida com filmes de terror, e este é mais um desses.

Ouçam, eu não sou propriamente a criatura mais maternal do mundo, mas este filme consegue que até um cubo de gelo sinta cenas. Cenas; isso mesmo. Ninguém disse que, por ser escritora, tinha de ser eloquente.

Still/born, ou O Enviado do Mal (até me arrepio de repetir), traz-nos um conjunto de atores cuja lista de trabalhos fica aquém de parcamente conhecida, mas que ultrapassam os limites do expectável. Há uma dinâmica incrível entre Christie Burke (Mary) e Jesse Moss (Jack) que nos faz sentir tanto a felicidade como a dor destes jovens pais. Também é uma ajudinha que Burke tenha um ar tão pacato e inocente e que Moss interprete um homem de sucesso, carinhoso para o filho e esposa, e cuja apresentação também lava um bocado os olhos (sim, tenho um problema com atores mediocremente bonitos — processem-me).


O filme apresenta a história de Mary, uma jovem mãe em pleno pós-parto que, após dar à luz duas crianças e perder uma à nascença, se vê perante uma entidade sobrenatural que tenta levar o seu filho sobrevivente.


Confesso que não conheço Christie Burke em nenhum outro papel de relevância, mas este, para mim, chegou para mostrar o seu potencial. Em Still/Born, Christie é Mary. É mesmo Mary. A atriz interpreta, pelo menos na minha modesta opinião de não-mãe, o papel de uma mulher no pós-parto com excelência. A espiral decrescente em que Mary se encontra — desde as esperanças de uma vida nova, com uma vida pequenina nas mãos, ao luto de um filho perdido, à depressão pós-parto e à psicose com todas as oscilações pelo meio — é representada a um ponto que quase se poderia dizer real. É o mesmo que dizer: Christie, eu quase acreditei que tinha ficado mesmo louca.

Jesse Moss representa muito bem o seu papel e, ainda que possa parecer algo secundário, é sobre as suas costas que recai todo o peso do final de O Enviado do Mal (ai, a sério…). As emoções que Moss dá a Jack são altamente credíveis, e as expressões faciais comovem, aterrorizam e entristecem no momento certo. Denotem a saída do quarto de hospital, já talvez a ¾ do filme, na resposta à sua esposa doente, ou no clímax da longa-metragem, quando Jack retorna do hospital e entra em casa a segurar o filho para uma surpresa nada agradável. Se não fizer os vossos corações vacilar só um milímetro, parabéns: são mais horríveis do que eu.

Still/born também traz um pouco de mitologia, e quem segue a Sessão da Noite já tem uma leve ideia de que isso dá sempre uns pontos extra para adquirir o selo de aprovação (inserir foca fofinha em jeito de graça). A mitologia dos filmes de terror merecia toda uma coluna própria, mas ninguém ia aguentar as minhas longas divagações sobre a temática, confessemos, já é difícil seguir o meu raciocínio na SdN.

Aviso: há cenas que podem não ser fáceis de ver, ainda que poucas e curtas, mas recomendo alguma discrição a quem tenha particular sensibilidade a terror que envolva bebés. O final também não é para todos — a sua ambiguidade dava pano para mangas.

Sim, alguns de vocês vão ter muita coisa negativa a dizer. Porque os efeitos especiais isto e as personagens secundárias aquilo. Talvez alguns de vós até sejam em parte culpados pela medíocre classificação de 5.4 no IMDb. A vossas excelências tenho apenas a dizer, em bom português: vão ver se está a chover.


Para os que ainda não conhecem Still/Born, recomendo vivamente, caso ainda não tenham percebido. E antes que ponham os vossos computadores e a vossa moral em risco, como eu ingénua outrora  fiz, Still/Born está disponível na plataforma de streaming FilmTwist.


Até à próxima Sessão da Noite, muitos sustos e fortes pesadelos.