Sustinhos Especial de Aniversário: «Heróis e Monstros»
Quem é que nunca quis estar dentro da sua série preferida?
Stranger Things: Heróis e Monstros é mais do que um livro. É uma experiência imersiva na qual enfrentamos vários perigos, e uma decisão errada pode custar-nos a vida.
Recomendado para 10+
Não sei se alguma vez chegaram a ler um livro-jogo. Nos anos 80-90, estes livros estavam na berra.
O meu primeiro contacto com este conceito inovador, em que participamos da narrativa e escolhemos o final, foi através da conhecida série «Aventuras Fantásticas». Eram livros diferentes do tradicional, que permitiam ao leitor, o protagonista, ter uma experiência personalizada da história à medida que avançava na ação.
Recordo-me de ter lido vários livros desta coleção, mas A Mansão Diabólica, o primeiro livro que «joguei», marcou-me particularmente. Por mais voltas que desse às páginas, ignorando as regras e recorrendo à batota, a minha personagem acabava por morrer pelo caminho sem nunca chegar ao fim. Numas férias de verão, um amigo meu propôs-se elaborar um mapa de todos os percursos do livro. Foi assim que detetámos que, numa das passagens «avança para a página X», havia um número errado. Embora continuássemos num impasse e sem chegar a bom porto, pelo menos ficámos com a certeza de que a aselhice não era (só) nossa.
Portanto, como calculam, foi com grande entusiasmo e curiosidade que abri o Stranger Things: Heróis e Monstros, da autora Rana Tahir, baseado na quarta temporada da minha série preferida, Stranger Things. As ilustrações a preto e branco de Patrick e Katherine Spaziante conferem um caráter ainda mais nostálgico a esta fanfic passada nos anos 80.
Entrei na aventura não como a Onze, o Mike ou o Dustin, mas como um estudante de uma escola secundária da Califórnia, a preparar-se para um seminário de jornalismo, durante as férias da primavera. A partir daqui, tudo podia acontecer, e gostei que o início da aventura surgisse com um encontro casual com uma aluna problemática.
À medida que avançamos na leitura, somos confrontados com escolhas que nos puxam para direções diferentes da narrativa. Em algumas delas, acompanhamos elementos do grupo (o Lucas, o Eddie ou a Max) e assistimos na primeira fila ao desenrolar de determinados momentos da série: na escola ou na cidade de Hawkins. Outras escolhas alteram completamente o enredo, o nosso destino e o das personagens que nos acompanham.
É-nos dada a possibilidade de ajudar a Onze a escapar das experiências secretas do governo, de participar na resolução do mistério da casa dos Creel e de procurar formas de destruir Vecna, o vingativo vilão da série. Confesso que estive a leitura inteira a evitar cruzar-me com ele e a fazer de tudo para não entrar (acidentalmente) no Mundo Invertido.
Se conhecem bem a quarta temporada, vão encontrar frases icónicas e ter algumas sensações de déjà-vu, pois esta ficção interativa está muito próxima da série. Ainda assim, o livro dá-nos espaço suficiente para a imaginação, com descrições pouco pormenorizadas.
Tal como na premissa dos livros-jogo, as personagens aqui também morrem, e há episódios de tortura e de violência que nem sempre estamos preparados para encontrar. Portanto, deixo aqui o alerta: muita atenção às escolhas que fazem. Um dos 25 finais pode ser o vosso. O bom deste livro é oferecer-nos sempre a possibilidade de voltar atrás, seguir outro caminho, caso nos arrependamos das nossas decisões. Vale a pena explorar todos os finais.
Choose Your Own Adventure® Stranger Things: Heróis e Monstros, escrito por Rana Tahir, e ilustrado por Patrick e Katherine Spaziante, chega até nós traduzido por Elga Fontes e editado pela Booksmile, da Penguin Random House.
É um bom complemento à série Stranger Things que os fãs não podem perder.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.