Compilação, «Dancing With The Dead»
Viagem musical por funerais à volta do mundo
Se a música é a mais evocativa de todas as artes e a morte o momento mais intenso de todas as emoções, juntar ambos é o poderoso exercício que aqui é proposto
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«Morte e Outros Azares»
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16.50 € (com IVA)«A morte é apenas o princípio.» A citação, manhosa, do filme A Múmia, podia perfeitamente ser o mote para este disco e livro, lançado pela extinta editora Ellipsis Arts em 1995. Mas a verdade é que, depois de ouvidos e assimilados os 17 momentos musicais, assim como as 64 páginas ricas em informação, em Dancing With the Dead – The Music of Global Death Rites, a sensação com que se fica é a de que a morte não é o princípio e muito menos o fim; é uma passagem. Que pode ser celebrada, chorada ou simplesmente assinalada de muitas maneiras distintas.
O ponto de partida é um elogio fúnebre, feito na Flórida pela pastora Edimae Layne à Elder Marguerite McLain. Os momentos de silêncio são usados com mestria e intercalados com frases lapidares como «Will your dying be a loss, or will your dying be a gain?», aprovadas sempre por vigorosos «Amen» por parte da plateia. Fica claro logo ali que Dancing With the Dead privilegia a pesquisa e a autenticidade, materializada por gravações no terreno. A viagem que se segue leva o ouvinte até à música fúnebre — mas nem sempre triste ou melancólica — de rituais no Brasil, Paquistão, Gana, Tailândia, Cuba, Geórgia, China e Madagáscar, entre outros.
É uma viagem pela morte, complementada pelo livro que acompanha o CD e que contém fotos raras e abastadas notas sobre tradições funerárias de muitas culturas diferentes. E o mais surpreendente é que culmina com uma explosão de vida — a vida que é celebrada em cada um destes momentos de passagem, seja na procissão dos aldeãos de Madagáscar que, inspirados por sonhos, rumam aos túmulos dos seus antepassados para vestir os cadáveres com roupas novas para as festividades sazonais ou pelas orquestras jazz que dão cor às alegres caminhadas até aos cemitérios de Nova Orleães.
A experiência é rica e pode ser intensa, assim que o ouvinte se disponha a mergulhar de cabeça em todas estas culturas e crenças sobre a morte.
O que é inegável é que Dancing With the Dead – The Music Of Global Death Rites é um documento — literário e áudio — completo e único sobre a Grande Passagem. Não está nas plataformas digitais (pelo menos oficialmente), mas pode ainda ser comprado em alguns sites e, com um pouco de sorte, encontrado em feiras de discos de segunda mão.
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Fernando Reis
Desde que, em 1985, viu O Monstro da Lagoa Negra na RTP, numa TV a preto e branco, Fernando Reis apaixonou-se pelo terror. Uma paixão que o acompanhou ao longo da vida, mesmo quando, na década de 90, enveredou pela indústria musical, escrevendo para revistas como a Riff, a LOUD! ou a Metal Hammer Portugal. Na Fábrica do Terror, tem oportunidade de juntar ambas as paixões. A sua vida pode resumir-se a um poema: «Alone», de Edgar Allan Poe.