«Bestiário Tradicional Português»

A primeira compilação ilustrada de criaturas fantásticas do imaginário nacional.

Baseando-se na tradição oral e em textos de autores portugueses, Nuno Matos Valente selecionou e Natacha Costa Pereira ilustrou 34 monstros que habitam o nosso território e assombram as nossas casas. Com informações úteis sobre hábitos, características e zonas do país onde as criaturas costumam atacar, acredito que ninguém voltará a ser apanhado desprevenido. 

Marta Nazaré

O nosso livro está à venda!

Recomendado para 8+
Perante um estilo de vida moderno e cada vez mais urbanizado, os receios dos nossos antepassados começaram a perder relevância. A maior parte dos seres imaginários representados neste Bestiário Tradicional Português servia o propósito de educar e proteger crianças e adultos, personificando medos e perigos de outros tempos. Atualmente, nas zonas rurais do nosso país, ainda é possível encontrar quem se recorde de ouvir falar destas criaturas fantásticas ou até mesmo quem tenha sobrevivido a um encontro imediato para contar a história.
Sossega-me um pouco saber que alguns destes monstros são mais avistados do que outros.


A probabilidade de me cruzar com aqueles que caçam por todo o país aumenta exponencialmente. Entre eles, destacam-se a Maria Gancha (que nos mantém longe dos poços), o Homem do Saco (que nos leva a desconfiar de estranhos), as Marimantas (que podem afogar-nos em rios e cursos de água), as Moiras Encantadas (que oferecem tesouros, mas por vezes faltam com a palavra), o Bicho-Papão e a Coca (que incitam as crianças a serem obedientes). Confesso que, quando era pequena, ouvi falar de alguns, mas felizmente nunca deparei com nenhum.


Mais fáceis de evitar são as criaturas que só aparecem numa determinada altura do ano ou da semana. Quem frequenta o Algarve no verão, por exemplo, talvez tenha ouvido histórias do temido Homem das Sete Dentaduras, que aparece ao meio-dia para nos obrigar a regressar a casa em alturas de muito calor. Tenho de concordar com ele. Além de ser quase hora de almoço, o melhor mesmo é recolher para não apanharmos uma insolação.

O Tardo tem por hábito provocar pesadelos nas pessoas que dormem ou desorientar aquelas que o veem, mas só às sextas-feiras à noite. Por muito promissora que seja a festa, mesmo com bebidas à discrição, o melhor mesmo é ficar em casa.

Menos prováveis de encontrar são o Bicho Cidrão (só existe um, segundo o bestiário) e os Labregos. Os berros do Bicho Cidrão a anunciarem uma tempestade só são ouvidos na Madeira. E a visão aterradora dos Labregos, a saírem das ondas e a avançar pela terra, transportando pedaços de madeira decrépitos do fundo do mar, só acontece nos primeiros dias de fevereiro, nos Açores. É melhor ir passar o Carnaval noutro lado.

Dividido em várias categorias para facilitar a consulta, este pequeno e bem elaborado bestiário inspirou-se nos antigos bestiários medievais, em que os artistas também desenhavam criaturas sem nunca as terem visto. Para escrever esta obra, Nuno Matos Valente recorreu à tradição oral e a informações de textos dos mais ilustres etnógrafos portugueses, como Leite de Vasconcelos, Consiglieri Pedroso e Alexandre Parafita, mas também de Alexandre Herculano, Júlio Dinis e Teófilo Braga.

Dos Medos e Papões (como o Homem do Saco, o Insonho e a Maria Gancha) aos Gigantes (como os Olharapos e as Bisarmas), passando por monstros com características importadas de outras culturas e bestas ilustradas pela primeira vez, este livro infantil das Edições Escafandro é uma forte contribuição para não deixarmos cair no esquecimento a sabedoria popular do nosso povo e o imaginário coletivo que o define.

Embora o autor Nuno Matos Valente e a ilustradora Natacha Costa Pereira nos assegurem no início do livro que as 34 criaturas aqui retratadas não existem, aconselho prudência.

Se querem evitar castigos, interromper fadários, identificar sons invulgares, interpretar fenómenos atmosféricos estranhos e saber como proceder caso se vejam frente a frente com um destes monstros, o Bestiário Tradicional Português ensina-vos tudo isto e muito mais. Mais vale prevenir do que remediar.


Para saberem mais sobre este livro, consultem a página https://bestiariotradicionalportugues.wordpress.com/