Bruxsa – A Bruxa-Vampira Portuguesa
Em Fantastic Fearsome Beasts (2015), Paula Hammond descreve a bruxsa como tendo a aparência de uma mulher normal durante o dia, mas, pela noite, «ela e as irmãs maléficas encontram-se nas encruzilhadas para recitar os rituais que as transformam em vampiros» (tradução livre).
De Patrícia Sá
Imagem: Fantastic Fearsome Beasts (2015), de Paula Hammond
A bruxsa não é apenas uma bruxa, mas também um vampiro.
Geralmente associada à forma feminina, especula-se que esta figura do folclore português seja uma evolução da figura da mitologia judaica, broxa, um pássaro que sugava o leite das cabras.
No imaginário português, a bruxsa é singular, pois é uma bruxa vampírica, que se assemelha a um ser humano normal, mas que se alimenta de sangue, tendo especial preferência pelo de crianças humanas. Chegam até, relata-se, a seduzir homens para as engravidarem e, assim, poderem alimentar-se das próprias crias.
A bruxsa é um ser indestrutível e extremamente poderoso, capaz de assumir a forma de animais, geralmente a de um pássaro. Diz Oswald Crawford que, «de todas as formas de terror que povoam as zonas rurais de Portugal, as mais capazes de espalhar o mal pela raça humana são as Bruxas» (tradução livre).
As bruxsas são omnipresentes e bem conhecidas tanto dos camponeses quanto dos pescadores, que acreditam vê-las dançar e cantar pelas águas. Apesar da sua capacidade de mudar a aparência, é a figura feminina a sua verdadeira forma.
Crawford acautela que não se deve confundir a bruxsa com a feiticeira, pois a esfera de ação da bruxsa não se limita à feitiçaria. É um espírito maligno e demoníaco, que atormenta viajantes perdidos e cujo ataque é impossível de impedir.
Apesar de se tratar de um ser invencível, existem formas de proteção contra esta criatura. Dizem as lendas que a bruxsa tem particular aversão pelo aço e pelo ferro. Por isso, as mães espetavam pregos no soalho, colocavam amuletos e até mesmo tesouras debaixo das almofadas dos filhos .
A maneira de obter vingança, caso a bruxsa tenha devorado a criança, é através de um processo descrito da seguinte forma pelo blogue «Portal dos Mitos»: «a mãe da criança morta deve ferver as roupas da mesma, enquanto estoca essas roupas com um instrumento afiado». Deste modo, a bruxsa sentirá os ferimentos no próprio corpo e ver-se-á forçada a voltar e implorar por misericórdia.
Para se transformar num vampiro, a bruxa deve lançar um feitiço durante uma terça ou sexta-feira, considerados dias de azar em Portugal. Assim, a bruxsa, outrora humana, converte-se num ser moribundo sedento de sangue: um vampiro capaz de praticar bruxaria.
Existe, ainda, uma outra perspetiva, descrita no estudo breve acerca de lobisomens de Nathan Robert Brown, The Complete Idiot’s Guide to Werewolves (2009), um livro que toca numa outra criatura de grande relevo em Portugal: o lobisomem.
Segundo Brown, a bruxsa é uma criatura que «combinou os poderes de um lobisomem e de um vampiro […]. O facto de estas criaturas serem simultaneamente lobisomem e vampiro é duplamente assustador, pois, de acordo com muitas das lendas, isso significa que a bruxsa beberá do teu sangue e comerá da tua carne» (tradução livre).
Apesar da divergência na descrição desta criatura, o caráter duplo continua presente. A bruxsa resulta da combinação de dois seres sobrenaturais, garantindo-lhe grande poder. Dado o caráter voluntário desta transmutação, apresenta-se como uma criatura particularmente maligna, cujo caráter imortal apenas aumenta o terror a ela associado.
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Patrícia Sá
Patrícia Sá nasceu em 1999. Desde muito cedo que encontrou um refúgio na escrita e estreou-se como autora em 2021, com o conto «Amor», na antologia «Sangue Novo». Interessa-se especialmente pelo estudo da monstruosidade na literatura, nas artes e na cultura. Está determinada a provar que o terror é um género sólido. A arma dela? Resmas de livros teóricos sobre o assunto. Sublinhados. E com «post-its».