«Cabo das Tormentas», de MoonVeil Studios

Um videojogo bem português.

Vive um dos momentos da nossa história na caravela São Cristóvão.

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Martina Mendes

São várias as narrativas de terror que se contam do Cabo das Tormentas. Podemos lê-las em «Mostrengo», na Mensagem de Fernando Pessoa, ou em «Adamastor», n’Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.

Ora retratam o medo e a incerteza dos marinheiros ora os monstros que ali habitavam e que impossibilitavam as embarcações de atravessar o cabo. O «Adamastor» foi um dos meus preferidos, quando tive de o estudar. Claro que o objetivo era encontrar as «verdadeiras» representações dos monstros. Mas «e se?» E se as sereias fossem reais? O canto delas atraía os marinheiros e, assim que as viam, a morte era certa. Eram horrendas, em completo contraste com as suas vozes melódicas e belas.


Confesso que foi a primeira coisa que me atraiu para este videojogo, aliando a história de Portugal e o terror. Não é algo que vejamos muito. E a história de Portugal tem tanto por onde se pegar!



Composta por Bernardo Silva (artista 3D), Filipe Serrazina (programador), Filipe Tomé (designer) e Madalena Valentim (artista 2D), a MoonVeil Studios abraça a lenda. A equipa desenvolveu o jogo em três meses.


Como personagem, acordamos na caravela, aparentemente abandonada. Os nossos passos ecoam pela noite enquanto a embarcação avança pelo mar. É de noite e uma tempestade aproxima-se — todos os elementos que me colocam em suspense, não vou mentir. É a incerteza, o não saber o que se segue que me deixa apreensiva.

As dicas vão surgindo (quase como um tutorial, mas sem a parte aborrecida da coisa) de forma espontânea, bem conjugada à narrativa. Entre puzzles e o avançar da noite, o ambiente intensifica-se. Consegue ouvir-se o restolhar das ondas nos cascos e a iminente tempestade a ressoar.

Infelizmente, tal como tantos outros jogos portugueses, este é apenas uma demo, uma demonstração exibida na Lisboa Games Weekend em 2022. E, tal como tantos outros projetos, não houve financiamento que pudesse providenciar a continuidade da história. Mas não é um projeto esquecido, confidenciou Filipe Tomé.

Se estiverem interessados em jogar, poderão fazê-lo gratuitamente no site da Itch.io