Coleção «Diários Zombie», de Matt Zeremes e Guy Edmonds

Tudo começou com carne estragada.

De um dia para o outro, metade dos adultos de Buttburgher estava enfiada na casa de banho. A outra metade não perdia pela demora. E este foi o início da infestação.

Marta Nazaré

Recomendado para 7+

Sei o que devem estar a pensar. Oh, não! Mais zombies não, por favor! Estamos fartos! Depois de termos sido tão massacrados com a franquia de The Walking Dead durante anos, acredito que estejam com os mortos-vivos pelos olhos, mas não me abandonem já. Prometo que esta história, além de ser um verdadeiro filme de ação, não é uma história de zombies qualquer.


Quando abrimos o primeiro livro da coleção, percebemos que estamos perante o diário de Jimmy, um miúdo prestes a entrar no secundário, com tantas ideias mirabolantes para filmes que é preciso anotá-las no caderno agora em nossa posse.


No meio deste fluxo de ideias, Jimmy resolve relatar-nos também o seu dia a dia. O rapaz não podia ter iniciado este diário em melhor altura, porque está prestes a testemunhar um apocalipse que mudará o mundo para sempre. Bem, pelo menos a pequena cidade de Buttburgher, onde Jimmy vive com a mãe, o Urso (um cão descomunal) e os seus melhores amigos, a Daisy (a miúda inteligente viciada em bolas de queijo) e o Hooey (o miúdo da cadeira de rodas com um abrigo subterrâneo).

Certo dia, que aparentava ser normal como os outros, os adultos da cidade sentem-se mal e começam a exibir sintomas estranhos. Sem mais nem menos, estão a babar-se, a mugir e a transformar-se em vacas. Literalmente. Sim, leram bem. Vacas! A primeira vaga dá-se com carne estragada, a segunda pelo contacto com a baba das pessoas/vacas infetadas. Não estavam à espera deste problema bovino e nojento, pois não? Ainda bem que Jimmy e os amigos têm um plano para encontrar a cura.

Mas omiti-vos a pior parte. Pois é, há pior. Ficaram todos sem… rede! Não há comunicações, não há wi-fi, não há Internet, nada! Que grande desgraça! E neste panorama de calamidade total, entramos no segundo livro (Enfrentar as Vacas-Z) a temer o pior. Posso dizer-vos que, efetivamente, as coisas não melhoram muito. Jimmy e os amigos veem-se obrigados a abandonar a Fortaleza do Hoo (o abrigo subterrâneo de Hooey onde se tinham refugiado para fugir ao «vacalipse»). Afinal, acabaram por perceber que a cura não é assim tão fácil de alcançar. O nível de nojo aumenta consideravelmente. (Não é para estômagos sensíveis, vos digo.) E Jimmy ainda não conseguiu concretizar o seu grande sonho de levar Bobby, a irmã de Hooey, a comer esparguete à pizaria Mário Máximo, para declarar a sua paixão por ela. Surge uma luz ao fundo do túnel, porém, quando o grupo encontra um postal sobre a IncrívelVille, uma cidade flutuante livre de contaminação. Para lá chegarem, vai ser outra saga.


A coleção Diários Zombie nasceu da parceria entre Matt Zeremes e Guy Edmonds. Já conta com quatro volumes, mas só dois estão traduzidos para português pela editora Gailivro, do grupo Leya. O Apocalipse das Vacas e Enfrentar as Vacas-Z brindam o leitor com referências geniais à cultura pop dos anos 80 e 90, misturando piadas inteligentes com cenas de ação explosivas, uma combinação claramente vencedora.


As ilustrações divertidas de Jake A. Minton, com um nível de nojo q. b., complementam esta narrativa original povoada de personagens de uma inocência refrescante, com as quais facilmente nos identificamos.

Recomenda-se a fãs das sagas Diário de um Banana, Os Mauzões e Os Últimos Miúdos na Terra.

Pelo sim, pelo não, estejam atentos a comportamentos estranhos, abriguem-se numa zona livre de vacas (zombie ou não) e tratem de reunir um kit de sobrevivência para um apocalipse de vacas-z. É só seguir os livros.

Nota da editora-chefe

A Marta Nazaré é a nossa especialista de terror infantojuvenil (caso ainda não tivessem dado por isso e pela coluna mensal que ela assina, Sustinhos).

No caso da coleção Diários Zombie, no entanto, a Marta tem uma relação ainda mais visceral com estas personagens e esta história. É que, além da leitura e da pesquisa que já faz para recomendar livros para os mais pequenos, a nossa especialista também é a tradutora destes livros.

Escrevo esta nota à revelia da autora, que põe sempre o seu gosto pelo terror infantojuvenil e a sua vontade de atrair mais leitores para o seu género favorito acima de qualquer tentativa de autopromoção. Considero que a autopromoção nem sempre é uma coisa vã e vaidosa, mas uma forma de partilhar os vários projetos a que nos dedicamos com amor. E a Marta dedica-se à tradução de textos para miúdos com o mesmo afinco com que se dedica, todos os meses, ao Sustinhos. Achei que era importante que isso ficasse escrito, até porque esta coleção também é um bocadinho da Marta Nazaré.