Crítica a «A Semente do Mal»
Um filme de Gabriel Abrantes.
É a primeira incursão no terror do realizador português de Diamantino.
Os nossos livros estão à venda!
«Morte e Outros Azares»
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16.50 € (com IVA)Esta crítica (ou, vá, consideração sobre a única longa portuguesa a concorrer pelo Prémio Méliès d’argent no 17.º MOTELX) vai ter duas partes, porque as opiniões sobre as longas-metragens de terror portuguesas têm de ser dadas de várias perspetivas.
Comecemos pelo filme em si: «Quando a busca de Edward pela sua família biológica o leva e à sua namorada, Riley, a uma magnífica vivenda no alto das montanhas no norte de Portugal, ele fica empolgado ao conhecer a sua mãe há muito perdida e o seu irmão gémeo. Finalmente, vai poder descobrir quem é e de onde vem. Mas nada é o que parece e Edward logo descobrirá que está ligado a eles por um segredo monstruoso.» Já vimos e lemos esta história centenas de vezes? Já. O filme afastou-se desta premissa e trocou-nos as voltas? Não. Só por ser uma história clássica de terror, vai tornar-se num clássico do género? Não sei, talvez. Do ponto de vista técnico, é um bom filme? Sem dúvida. Não sou da área para dar bitaites sobre argumento, realização, fotografia e direção de atores, mas os ingredientes estavam lá todos e é suficiente. Se isso faz de A Semente do Mal (meu deus, como eu odeio este título clichê quando o título em inglês, Amelia’s Children, faria um melhor serviço) um filme de terror extraordinário? Não. Caramba, é que até tinha as personagens locais a avisar os recém-chegados para não irem para a casa da Amélia! Estamos no MOTELX. Seguramente, 99% das pessoas na sala são fãs de terror. Nós não precisamos do trigger warning; já estamos a contar com ele.
Por um lado, acho que o terror (também) vive do genre bending, de criadores de outras áreas tentarem testar as águas do género. Por outro lado, chateia-me (porque consumo terror há décadas) que agarrem em meia dúzia de clichês, lhes metam um verniz bonito por cima, umas doses de comédia (porquê?) e uma atriz caracterizada de forma grotesca (outra vez, porquê?) e apresentem aquilo como terror.
(Pausa para respirar e mudar de perspetiva.)
Quantas longas de terror portuguesas estrearam no MOTELX, até agora? Não chega a meia dúzia, pelas minhas contas. E quantas delas tiveram sucesso (distribuição, vá) comercial nas salas portuguesas? Só me lembro do Coisa Ruim (2006) e do Mutant Blast (2018), mas posso estar errada.
Pode ser que o sucesso de A Semente do Mal em sala (o filme foi muito aplaudido) transborde para fora do festival e ele possa ser visto por mais pessoas em mais cinemas. O terror português apreciaria o buzz. Em grande parte, porque é um filme de terror bem feito e é português sem «portuguesices», tirando as duas personagens que estão a vender fruta à beira da estrada (very typical) e as referências à nossa burocracia. Mas isso são apontamentos que não afetam a (possível) internacionalização do filme.
No final da sessão, falei com um realizador português (entusiasmado com esta estreia e as suas possibilidades) que desabafou que talvez, com A Semente do Mal, quem decide as candidaturas ao financiamento olhe para o cinema de género com outros olhos. Talvez.
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Sandra Henriques
Escritora de conteúdos digitais e autora de livros de viagens, Sandra Henriques estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias «Sangue Novo» (2021), com o conto «Praga», e «Sangue» (2022), com o conto «Equilíbrio». Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.