Entrevista à realizadora Silvana Torricella

O Abafador é exibido dia 14, às 21 h 10, e dia 16, às 14 h.

«É uma reflexão sobre a eutanásia e sobre duas pessoas que sentem que estão a caminhar para um beco sem saída, mas quando se encontram, apesar de ser um encontro algo atribulado, voltam a ter alguma esperança no futuro.»     

Sandra Henriques

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Depois da licenciatura na ESAP, Silvana Torricella passou por uma escola em Londres e trabalhou, no HPP Studios em Coimbra, na sua primeira longa-metragem de cinema de género, Abduct (a que se seguiu Anamorphosis). O Abafador, que começou a ser escrito em 2015, foi o projeto final do mestrado na ESMAD. Depois de uma nomeação para os Prémios Sophia Estudante em 2023, o filme é agora exibido na 17.ª edição do MOTELX, no segundo dia dedicado às curtas portuguesas em competição.  

 

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Como tem sido o teu percurso até aqui, no cinema?

Depois de terminar a licenciatura na ESAP, decidi aventurar-me numa escola em Londres, mas a aventura durou dois meses. [risos] Não estava contente com a escola nem com as condições que encontrei lá e acabei por voltar. Depois, estive cerca de dois anos num estúdio que foi criado em Coimbra por um realizador e produtor inglês, o HPP Studios. Eles faziam cinema de género, e foi a minha primeira experiência a trabalhar numa longa [e que era um filme] de terror e de fantasia. Nunca tinha trabalhado com efeitos especiais, nem com CGI, e acho que foi uma aprendizagem muito boa, acima de tudo. Depois, voltei para o Porto, fui fazendo alguns trabalhos na área audiovisual, alguns documentários e, na altura da pandemia, decidi tirar o mestrado na ESMAD e fazer O Abafador como projeto final de curso. Já tinha este projeto [do filme] há muitos anos, desde que saí da ESAP. Comecei a escrevê-lo [nessa altura] e depois fui adiando.

O Abafador esteve nomeado para os Prémios Sophia Estudante de 2023. Como foi essa sensação?

Foi muito boa. Por todo este tempo que estive a tentar realizá-lo, a escrever mil e uma versões, por todo o trabalho investido, meu e dos meus colegas. E aquela foi a primeira vez que vimos o filme numa sala de cinema. Foi muito bom perceber que o feedback era muito positivo, perceber que as pessoas gostaram muito do filme.

Dizias-me que tiveste a oportunidade de trabalhar numa longa de cinema de género. Se pudesses escolher, farias sempre cinema de género?

Nunca vi O Abafador como um filme de género, de terror, por isso fiquei muito surpreendida com esta nomeação. Mas gosto muito da fantasia, de criar mundos, por isso percebo a seleção. Acho que [se pudesse escolher] iria sempre por aí, tentar incluir um bocadinho de fantasia [nos meus filmes]. Interessa-me muito mais do que ter um filme hiper-realista. Se isso é considerado cinema de género, então sim, [era o que faria sempre].

O que é que nos podes dizer sobre o filme?

O Abafador acompanha a jornada do Vicente, uma pessoa contratada por familiares para acabar com o sofrimento de alguém que estivesse com uma doença em fase terminal. No entanto, chega um momento em que ele quer deixar isso para trás, quer mudar de rumo, mas é apanhado em flagrante por uma rapariga que o vai chantagear para fazer um novo «serviço». É uma reflexão sobre a eutanásia e sobre duas pessoas que sentem que estão a caminhar para um beco sem saída, mas que, ao encontrarem-se, apesar de ser um encontro algo atribulado, voltam a ter alguma esperança no futuro.

Começaste a escrever este filme em 2015. Como foi esse processo?

A inspiração veio do conto O Alma-Grande, do Miguel Torga. Achei que era uma ótima personagem para falar de um assunto que me interessa sem ser demasiado direta. Esse foi sempre o foco, mas isto passou por muitas versões, muitos estilos. Cheguei a ter outras pessoas a escreverem comigo, que depois saíram do projeto. Já tinha tentado candidatar-me a alguns apoios, mas não correu bem. Então, vê-lo agora cá fora é muito bom, estou muito orgulhosa do meu trabalho. Deixa-me muito feliz ter conseguido cumprir este objetivo e tê-lo feito com as pessoas com quem trabalhei, que são muito especiais.

Quais são os teus projetos futuros?

Neste momento, estou a trabalhar num documentário que comecei na residência artística do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço. É um filme sobre uma refugiada da Guerra Civil Espanhola, que foi acolhida em Castro Laboreiro em 1938. O filme é sobre a história de vida dela e sobre a investigação que o filho dela tem feito ao longo destes anos. [Tem sido um trabalho] comovente, para mim.