Entrevista ao realizador de «The Muppet Face», Ricardo Machado

«É uma curta que vale pela estética que tem e também pela história em si, pelo argumento, porque é a origem daquele personagem, do psicopata. Trata-se do primeiro assassinato que ele comete.»

The Muppet Face, o slasher que conta a origem de um assassino em série, esteve em competição para o Prémio SCML MOTELX – Melhor Curta Portuguesa. É o quarto filme de terror do realizador Ricardo Machado, que ganhou o Prémio Z do Madeira Fantastic Filmfest, em 2021, com o filme Equação Divina.

Conversámos com o realizador sobre o novo filme (sem spoilers), as suas expectativas para o festival e projetos futuros.

Sandra Henriques

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O que é que nos podes dizer sobre o The Muppet Face?

É uma curta que vale pela estética que tem e também pela história em si, pelo argumento, porque é a origem daquele personagem, do psicopata. Trata-se do primeiro assassinato que ele comete. Tive a ideia para este filme depois de ver a curta Killies (2015), do David Rebordão, e esta história seria uma espécie de prequela.

 

É interessante teres agarrado no trabalho de alguém e teres criado uma origin story para aquela personagem.

Sim, e a curta tem uma cena depois dos créditos finais que faz essa ligação.

 

Recentemente, em 2021, ganhaste o prémio do público no Madeira Fantastic Film Festival, com a curta Equação Divina.

Sim, é uma curta de fantasia, mais virada para a ficção científica. Cheguei a enviá-la para o MOTELX, mas não tinha elementos de terror, e acabava por não encaixar na programação. Esse trabalho foi uma história proposta pelo ator João Craveiro.

 

O The Muppet Face é o teu primeiro filme de terror?

Não. Este será o quarto. Eu estive aqui [no MOTELX] em 2012, com uma curta chamada Aconteceu No Interior. Depois, estive em 2015, com a curta The Bad Girl.

 

Consideras-te um realizador de terror ou preferes não te encaixar num género específico?

Posso dizer-te que o género do terror foi o último género que aprendi a apreciar. Lembro-me de ser aluno de cinema e não ligar aos filmes de terror. Foi já depois de sair da faculdade que comecei a apreciar o género e a perceber que havia filmes bons e maus de terror, como há filmes bons e maus de outros géneros. Ultimamente, tenho-me dedicado mais ao género do terror e do fantástico, mas não a 100%. Tenho dois documentários, o Equação Divina é fantástico. Diria que, de há 7 anos para cá, a maioria dos trabalhos tem sido dentro do género do terror e do fantástico, mas não sempre. O último trabalho que tive a concurso no ICA, que tem como título 1916, pode ser terror ou não, porque há uma parte da história em que a personagem tem um pesadelo forte em que afoga um bebé, mas o resto do filme, se calhar, é mais histórico.

 

O género de terror é sempre mais difícil de classificar, mas talvez o cinema português tenha mais liberdade criativa.

Sim, nós temos aqui casos de trabalhos que já ganharam o festival, e para muitos espectadores aquilo não tem terror. Mas o The Muppet Face vai mais na linha do [terror purista], do slasher, do terror gráfico, do sangue.

 

Tens expectativas para esta competição?

Como é a terceira vez que estou cá com um trabalho, sim, tenho expectativas. Mas também, para te ser sincero, as expectativas são 50/50. Acho que varia muito, muda todos os anos, varia consoante os elementos do júri e das pessoas que estão a avaliar os filmes. Acho que vai depender dos gostos dos membros do júri. Se eles gostarem mais do [subgénero] slasher e de gore, se calhar o The Muppet Face tem hipóteses.

 

Existe espaço para o terror português crescer em Portugal?

Acho que o género do terror tem espaço para avançar no nosso país porque, por norma, os filmes de terror estão sempre associados à série B, a maior parte deles. E sendo série B, não é um filme que seja tão caro [de fazer] como um de outro género. Logo aí, sendo Portugal um país pequeno e com poucos recursos, acho que o género do terror pode ter progressão. Este festival também ajuda a isso.

 

O público que gosta de terror, também, muitas vezes, é menos exigente em relação aos efeitos especiais, desde que a história seja boa. As pessoas aceitam o filme como ele é.

Sim, há vários exemplos disso, de realizadores quando começaram, como o Spielberg com o Tubarão, ou o Peter Jackson, o Guillermo del Toro. Eu acho que é por aí, pode ser uma boa porta, porque é um filme que pode não ser tão caro.

 

Algum projeto novo em que estejas a trabalhar agora (e que nos possas revelar)?

Tenho três argumentos de curtas escritos, à espera que haja vontade, disponibilidade e algum financiamento. Depois, tenho uma longa escrita, também dentro do terror. E tenho um telefilme para a RTP. Estou à espera para começar a rodagem.