Estação de São Bento: história, arquitetura e fantasmas
Diz-se que é das estações ferroviárias mais bonitas do mundo.
Além de história, arquitetura e arte, a Estação de S. Bento corre pelas bocas do povo por outro motivo: está assombrada!
Gostas de ler? Aqui, encontras os melhores contos de terror!
«Os Melhores Contos da Fábrica do Terror – Vol. 1»
16.50 € (com IVA)O Convento da Avé Maria, também chamado da Encarnação das monjas de S. Bento, albergou as irmãs beneditas durante os seus anos de funcionamento, sendo que a comunidade religiosa era muito restrita nas suas admissões, só aceitando mulheres da nobreza. Típico da nobreza e do alto estatuto, as beneditas usavam as eleições das novas abadessas, que ocorriam de três em três anos, para albergar tertúlias e serões culturais (festas, não é, meninas de Deus?) que duravam três noites e se prolongavam para a madrugada, na companhia dos familiares das freiras e de figuras importantes da sociedade. Chamavam a esses serões os Abadessados.
Mandado construir no século XVI pelo Rei D. Manuel I, o Convento de S. Bento da Avé Maria esteve localizado, desde 1535, no Largo de São Bento, atualmente conhecido como a Praça de Almeida Garrett. De início no estilo manuelino, o convento sofreu várias remodelações nos seus mais de 300 anos, uma das quais motivada pelo incêndio de 1783. O Liberalismo trouxe a extinção das ordens religiosas e condenou o Mosteiro de S. Bento, como tantos outros, à sua extinção, e em 1888 foi lançado o decreto que ditou a demolição do Convento para construção de uma estação ferroviária. Com o convento invadido pelos engenheiros das Obras Públicas, a Abadessa ditou que, por força e preces a S. Bento, ocorreria um milagre: «ou morre o ministro ou cai o ministério» — o ministro Emídio Navarro demitiu-se dias depois da pasta das Obras Públicas.
A extinção das ordens religiosas, que ditou o fim imediato das ordens masculinas, permitiu a continuação do Convento de S. Bento, contanto que os espaços que albergassem ordens femininas fechassem com o falecimento da última freira residente à data do decreto: para as beneditas do porto, isto aconteceu só em maio de 1892, mais de 50 anos após o início da extinção das ordens religiosas.
A demolição oficial do Mosteiro só se iniciou em 1894 e ficou concluída com a demolição da igreja anexa em 1901. As ossadas das freiras foram movidas para o Prado do Repouso no primeiro ano do abatimento.
A estação de S. Bento só é inaugurada no quinto dia de outubro de 1916 e é atualmente um dos pontos turísticos de maior relevo no Porto, com arquitetura estilo Beaux Arts de autoria de Marques da Silva, com os seus belíssimos e conhecidos azulejos, obra do pintor Jorge Colaço. Produzidos pela Fábrica de Cerâmica Lusitana, os vinte mil azulejos retratam episódios da história portuguesa, entre os quais a conquista de Ceuta, o torneio de Arcos de Valdevez, o casamento entre D. Filipa de Lencastre e D. João I, assim como cenas rurais e de romaria como a Festa da Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, e um friso superior dedicado à história dos transportes em território português.
Mas além de história, arquitetura e arte, a Estação de S. Bento corre pelas bocas do povo por outro motivo: está assombrada!
Apesar dos séculos passados, das ordens de extinção e demolição, por força da religião (e certamente teimosia), a última freira do Convento, D. Maria da Glória Dias Guimarães, ainda vagueia pelo espaço. Denominam-na como um fantasma sereno, não fossem as suas rezas ouvidas a altas horas da noite, quando a estação está menos lotada — e se calhar em honra dos Abadessados (afinal de contas, os fantasmas também podem ter saudades de uma noite de regabofe, com todo o respeito à irmã Maria da Glória).
A estação de S. Bento é um marco a não perder. Está disponível para ser visitada a qualquer hora do dia, para os apreciadores de arquitetura e arte ou apenas para os que necessitem aceder à rede ferroviária. Para os amantes de um susto ou outro, no entanto, sugerimos que lá passem mais à noite, quando a estação está envolta no silêncio.
Quem sabe não poderão ouvir um pai-nosso ou uma ave-maria nas palavras fantasmagóricas da irmã mais teimosa da história da Invicta.
GOSTASTE? PARTILHA!
Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.