Fantasporto 2023: «Convenience Story», de Satoshi Miki

Nova sessão: 1 de março, às 19 h, na sala 2

«Um argumentista em crise abandona o cão da namorada num campo para não ter de tratar dele.  Arrependido, volta ao sítio onde o deixou, mas o cão desapareceu. Entra então numa loja de conveniência de uma estação de serviço que fica perto. Uma realidade paralela espera-o, assim como uma mulher casada que irá desbloquear a sua criatividade.»

 

Há muita coisa que se pode encontrar numa loja de conveniência: comida de cão, snacks, revistas, chupa-chupas, bebidas e, no caso deste filme, guiões de filmes e um estranho portal entre dois mundos. A estranha e disfuncional relação de Kato com a sua namorada Zigzag despoleta uma crise que o leva a abandonar Cerberus (o cão dela; sim, com o mesmo nome do mítico guardião do submundo grego, mas com menos duas cabeças). Parece uma reação exagerada? E é. Mas, por essa altura, já se está numa realidade paralela — nós e o protagonista, que os espectadores só percebem onde se foram meter mais ou menos à mesma altura que Kato.

Entramos história adentro com a leveza de quem vai ver uma comédia, se bem que absurda, com um ou outro toque sobrenatural para nos deixar desconfiados. Depois disso, há demasiados acontecimentos que nos fazem perder o fio à meada, e introdução de personagens que não sabemos bem para que servem (com aquele estardalhaço todo, pelo menos). É isto, no entanto, que provavelmente acontece a quem passa por um portal que liga a universos paralelos, que, por conveniência, fica ao fundo do frigorífico das bebidas.


Satoshi Miki, que também escreveu o argumento, joga muito bem com a linearidade relativa do tempo e conduz os espectadores pelos caminhos que quer que sigam, mesmo que dois passos antes já se veja a curva lá à frente.