Fantasporto 2023: «The Ghost Writer», de Paul Wilkins

Nova sessão: 27 de fevereiro, às 21 h 15, na sala 1

«Um escritor em crise de inspiração regressa à casa de família em busca de calma, mas reencontra os traumas do passado, sobretudo a memória de um pai abusivo já falecido. Quando uma mulher que desconhece lhe bate à porta, força a entrada como se o conhecesse e não se quer ir embora, a sua sanidade vai ser posta em causa, ao decidir plagiar um livro do pai. Com um belo argumento do realizador Paul Wilkins e de Guy Free, com Luke Mably, o ator de 28 Dias Depois de Danny Boyle, e Andrea Deck, de Homeland e The Crown. Seleção do FrightFest (Londres)»

The Ghost Writer é uma longa-metragem que se debruça sobre os segredos do romance não terminado de Irwin Graham, e de como o seu filho Gilliger, também ele escritor, lida com a escuridão da verdade que a ficção esconde.

A história em si é algo cativante e, mesmo debruçando-se sobre o mais-que-usado-mas-nunca-gasto tema da vida tortuosa e dos segredos obscuros de um escritor, consegue ser original. O desempenho do elenco não se destaca com nenhum momento em particular, mas proporciona constância. Todos os atores encaram as suas personagens com credibilidade satisfatória, mas não ultrapassam essa linha.

Lamento informar que, se criar empatia com as personagens é um critério para seguir a história até ao fim, The Ghost Writer falha redondamente no que toca à matéria de ligar o ecrã à vida real.

A história move-se com o ritmo adequado, intercalando momentos de menor movimento com cenas mais intensas e desafiantes. Alguns flashbacks vão sendo inseridos ao longo do filme, para dar contexto das personagens e da história, e o seu uso permite responder a algumas perguntas e levantar outras. Uma atmosfera enervante preenche a película do princípio ao fim, e se, em certos momentos (a maioria deles, felizmente), a atmosfera ajuda a duvidarmos da credibilidade e sanidade das personagens, noutros, talvez por incapacidade em prender a atenção da audiência, essa atmosfera torna-se dominante, e o espectador menos determinado pode vir a sentir a vontade de dar por terminada a sessão.

No entanto, um pouco de empenho em seguir o início pouco entusiasmante da longa-metragem pode compensar para alguns — tudo, como sempre na arte, depende dos gostos de quem a observa. As diferentes reviravoltas ao longo da história são interessantes de se verem desenvolver, e o final deixa ainda questões por responder: afinal, qual é a versão real do segredo que se esconde na ficção inacabada de Irwin Graham?


A fórmula é aparentemente simples, mas funciona. The Ghost Writer combina as ideias pouco inovadoras de um escritor em dificuldade, uma história que esconde algo maligno, uma linha de adultério e um crime. O que resulta? Algo criativo e com real potencial.