Fantasporto 2023: «Exhibit #8», de Ruben Broekhuis

Nova sessão: 1 de março, às 21 h 15, na sala 1

«O horror das crianças migrantes que desaparecem sem rasto na Europa. Aisha e o irmão Adin vieram da Bósnia sozinhos para a Holanda. Um realizador espanhol, Elias, vai ouvir a sua história e ajudá-la a investigar o desaparecimento do irmão. O que descobrem é uma arrepiante verdade que os põe em risco de vida. Um exemplo de bom cinema, mas também um tema atual que deve incomodar todos. É a primeira longa-metragem de ficção deste realizador holandês.»

Cláudio André Redondo

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Exhibit #8 pega numa premissa boa. Milhares de crianças desaparecem frequentemente e, na maior parte dos casos, nem sequer se ouve falar disso. Recordo até uma frase marcante do filme — e desculpem o spoiler — em que a personagem principal diz que se recorda melhor do rosto de Maddie McCann do que do rosto do seu irmão desaparecido. O potencial deste tema é tão grande (não só em termos sociais com o que pode ser discutido, mas também nas histórias e temáticas que podem ser abordadas e imaginadas) que fiquei genuinamente entusiasmado com o que o filme me poderia oferecer.

Infelizmente, não sinto que o mesmo tenha sido explorado devidamente. Sim, há uma clara tentativa de mostrar que o caso de um migrante vindo de um país em conflito não é visto com a mesma atenção prestada a de alguém vindo de um país «importante». Sim, existe uma tentativa de mostrar que a irmã continua, apesar de tudo, a procurar o seu desaparecido irmão. Mas senti que tudo isso foi colocado como um extra, não como foco principal do filme.

Esta história, pelo menos para mim, não pareceu ser sobre crianças desaparecidas e a dificuldade em encontrá-las. Pareceu-me ser sobre uma seita, ou algo semelhante, que se dedica a praticar o mal (e apenas não sou mais explícito para não revelar o enredo).

Acho que o grande problema é a forma como o filme é apresentado. No início, o estilo é semelhante ao de um found footage, mas rapidamente se percebe que não pode ser, porque os planos estão editados, têm cortes, têm planos de sequência com voz off. Depois, surgem planos estranhos que não poderiam ter sido obtidos pelas personagens principais. Assim, claramente não é found footage; é outra coisa. Mas essa outra coisa que é — e que mais tarde descobrimos — fez-me esquecer a premissa original. A história deixou assim de ser sobre crianças desaparecidas e passou a ser sobre quem está a editar e a fazer este filme. Basicamente, um filme acerca de um filme. Parece confuso, mas fará sentido no final.

Juntando a isso, há ainda o facto de o argumento ser muitas vezes conveniente para o avançar da história — daquela história, que faz avançar aquele filme, com planos de câmaras que ficaram em posições aleatoriamente estratégicas a gravar. Isto fez-me esquecer por completo o desaparecimento das crianças. A partir de certa altura, já só queria saber quem eram estas pessoas que pareciam estar a controlar tudo, uma vez que as cenas do filme estavam nitidamente a ser controladas por alguém.

Não irei abordar algumas questões técnicas (acerca do material audiovisual) dentro do argumento que me incomodaram, porque sei que, para a maioria do público, passam despercebidas, mas, somando isso a tudo o resto, foi um filme que me desiludiu. Tinha potencial para ser uma história boa e marcante, mas no fim, por não saber bem o que queria ser, ou querer ser muita coisa ao mesmo tempo, fica a sensação de que é apenas mais uma entre tantas outras. É mais um daqueles filmes que se veem sem se pensar muito e que acabam por ser esquecidos.

Essencialmente, gostaria que o realizador tivesse ido mais a fundo nos temas importantes, sem medo de chocar ou de incomodar, em vez de apresentar uma história fácil de pessoas más que fazem coisas más.