Feliz Dia de São Valentim!

Fez a reserva de jantar no restaurante favorito da joia dos seus olhos? Comprou a prenda? Já tem a roupa escolhida e reservada?

Vai aproveitar o clichê e pedir em casamento? Planeou uma noite acolhedora em casa? Ou vai desencantar o frango assado de última hora e aquela rosa vermelha solitária?

Maria Varanda

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Seja qual for a sua rotina e método de celebração deste fatídico e idiótico dia (sim, eu sou dessas), saiba que não podia estar mais errado. Tem noção das origens daquilo que está a celebrar? Não? Então deixe que eu o ponha a par da longa história do dia 14 de fevereiro.

Previamente ao cristianismo, na Roma antiga, entre 13 e 15 de fevereiro (claro, posterior a este mês ser reconhecido e adicionado ao calendário romano), os romanos celebravam a purificação e a fertilidade. Inicialmente, o festival seria chamado Februa, sendo que, no terceiro dia (correspondendo ao 15.º do mês), se celebrava o ritual de Lupercalia, nome que posteriormente veio a definir os três dias de celebrações.

Talvez o leitor reconheça a palavra Lupercalia e pense na gruta Lupercal. Pois bem, esse era um dos locais onde se celebrava o festival — restrito à área da mitologia das origens de Roma: Lupercal, o Monte Palatino e o Fórum.

O festival era presidido por um sacerdócio denominado de Luperci, constituído por homens. Durante as celebrações, os Luperci sacrificavam bodes e cães, usando o seu sangue para pintar o rosto, que era depois lavado com leite de cabra.

Divertido, não é? Ainda não terminámos.

Após um festim (porque não há festa sem banquete), os Luperci corriam em trajes menores e próximos daqueles em que vieram ao mundo, segurando as februa, peças da pele dos animais sacrificados, em estilo de chicote. Essas tiras de couro eram usadas nas mulheres jovens e sem filhos que se aproximavam dos Luperci procurando ser açoitadas. Tudo pelo bem da fertilidade e da purificação. Se esta gente nos visse nos dias de hoje…

Já temos nudez, violência e sangue. O que falta? Falta homens e mulheres a serem unidos por aleatoriedade, para serem um casal durante a duração do festival, muitos acabando por ficar juntos o ano seguinte, e alguns até casar — faltava o romance, era isso… mais ou menos.

Esta celebração pagã continuou a ser praticada até 150 anos depois da legalização do cristianismo. Só no século V,  por intervenção do Papa Gelasius (não tinhas sentido de humor nem de diversão nenhuns, Gelasius) é que Lupercalia viu os seus dias festivos terminados. Assim, a Igreja Católica declarou que o dia 14 de fevereiro seria o Dia de São Valentim, mas nem aí a coisa fica romântica. Em primeiro lugar, os historiadores do Vaticano não conseguem saber ao certo quem era este São Valentim, pois existem dois mártires com o nome Valentim que poderão ter sido o santo do dia 14 de fevereiro. Em segundo lugar, morreram os dois degolados por decisão do Imperador Claudius II (o tipo devia ter problemas com Valentins).

Independentemente da verdadeira identidade, São Valentim tornou-se o Santo Padroeiro dos Namorados. Se quiser ser fiel à festividade imposta pelo Papa Gelasius no ano de 496, faça uma viagem até Roma e visite a Basilica di Santa Maria in Cosmedin, onde pode encontrar a relíquia do santo (por relíquia, entenda-se o seu crânio).

Os séculos foram avançando, e o dia 14 deste mês invernoso foi ganhando uma conotação romântica, passando a ser conhecido como o Dia dos Namorados. Uns dizem que começou com a alusão aos meados e fins de fevereiro se aproximarem da primavera e da época de acasalamento de aves. Outros culpam um poeta. Eu culpo a produção de postais em massa e o consumismo de que padece a sociedade em geral.

Enfim, celebrar à antiga significa quebrar barreiras que há muito deixaram de ser socialmente aceitáveis, e para ir ver relíquias a Roma é preciso muitas outras coisas. Portanto, não podendo nenhuma das anteriores, vá lá jantar fora, oferecer massagens aos pés, saltar de bar em bar, ou seja irreverente e atente antes às sugestões de cinema da Sessão da Noite de dia 13.