Locais a visitar: Boca do Inferno (Cascais)

Um local de mistérios e lendas

A Boca do Inferno é um local conhecido por todos os amantes da costa marítima de Cascais. Mas sabe o leitor as histórias que se escondem nos seus rochedos?

Maria Varanda

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Localizada na Av. Rei Humberto II de Itália, em Cascais, a Boca do Inferno é um ponto panorâmico de grande atração turística. A formação rochosa, por si só, é digna de o visitante dispensar uma boa porção do seu tempo a admirá-la, em toda a sua magnitude e imponência, mas poucos são aqueles que buscam a história deste local e os mistérios que o envolvem.

Reza a lenda que, em tempos há muito passados, um terrível mago desejava o amor da mais bela donzela da vila, mas que, após inúmeras recusas da jovem em aceitar matrimónio, a condenou ao isolamento numa torre. Destino dos destinos, o cavaleiro destacado para a guarda da torre espreitou para o interior e viu a donzela. Ambos se enamoraram e fugiram juntos. O feiticeiro, envolto em ciúme e raiva, e para se vingar desta traição, usou os seus poderes para abrir um buraco na terra, enviando os dois amantes para o seu castigo, supostamente no Inferno.


O cavalo onde o casal de apaixonados seguia terá soltado um relinchar tão tremendo que se fez ouvir até à praia que conhecemos, por esse motivo, como Praia do Guincho.

Mito ou história real de um mundo que já não conhecemos, a Boca do Inferno não deixa de ser um local que exige respeito, considerando também os inúmeros e lamentáveis suicídios e acidentes que mancham a sua existência.

Há, porém, um suicídio muito famoso que poucos conhecem sobre a história deste local: o falso-suicídio de Aleister Crowley. O mestre esotérico terá iniciado uma amizade por correspondência com Fernando Pessoa — duas pessoas muito diferentes que se uniam apenas pelo amor ao esotérico — e numa visita a Lisboa, no final do verão de 1930, a notícia do suicídio do mago inglês terá assombrado a imprensa portuguesa.


O suicídio fora fingido após uma disputa entre a «Grande Besta» e a sua esposa «Princesa Jade» Hanni, estando Fernando Pessoa presumivelmente envolvido nos preparos de tal farsa.

Após dois anos de amizade, o autor português terá posto fim à correspondência com Aleister Crowley, sendo que algumas das suas trocas e todo o processo de fingir o suicídio do segundo poderão ser encontrados numa obra intitulada O Mistério da Boca do Inferno, da Tinta-da-China, no formato de um policial inacabado pela mão do famoso poeta português.

Recomenda-se a visita em alturas de nevoeiro e maior agitação marítima. A beleza intrínseca do local é acentuada por atmosferas mais misteriosas e pela violência acrescida de um mar indomável. Existem alturas em que, entre a agressão do mar contra os rochedos e o soprar do vento, quase se conseguem ouvir os sons vindos das profundezas do Inferno.