Minicalendário do Advento da Sessão da Noite

Não queremos que lhe falte nada e isso inclui umas Festas repletas de sustos

Proponho o seguinte: um filme por noite até ao fim da quadra natalícia. Pode ajustar o calendário ao Kwanzaa, ao que sobrar de Los Posadas ou fazê-lo após um Hanukkah bem passado (desculpe só sair hoje). Que me diz?

Maria Varanda

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E se disse que sim, seja bem-vindo à edição especial da nossa coluna de cinema. Vamos embarcar numa viagem cinematográfica com tudo, desde pais natais assassinos, heroínas feministas e criaturas sobrenaturais. Como amante de terror que é, o espectador poderá já ter visto alguns dos filmes que lhe proponho, mas nada impede de os rever. 

DIA 19

Le Calendrier

Corra para o ecrã mais próximo: estamos prestes a começar a contagem decrescente. Hoje, dia 19, vamos ver Le Calendrier. Escrito e realizado por Patrick Ridremont, Le Calendrier é uma versão da típica e gasta caixa assombrada que concretiza desejos; só que esta caixa é (adivinhou bem) um calendário do advento. Que melhor maneira para começarmos?

O filme conta-nos a história de uma bailarina que, após um acidente que a deixa paraplégica, recebe como presente um calendário do advento alemão, que lhe concede desejos com custos bastante elevados. Le Calendrier possui uma boa história, bem representada e com suspense crescente que culmina num final que pode não agradar a todos, pela sua ambiguidade. A mim, encantou-me imenso o desfecho secreto.

DIA 20

Krampus

Muitos de nós já o viram, mas nada impede de o reverem. Krampus foi realizado por Michael Dougherty e conta com a maravilhosa participação de Adam Scott e Toni Collette. Diria que é um filme para toda a família, mas não tomem por certa a minha palavra — um pai ou mãe normais poderão não querer mostrar isto a crianças pequenas. Com um orçamento inicial de 15 milhões de dólares, e arrecadando mais de 60 milhões depois de passar pelas bilheteiras, Krampus é uma comédia negra baseada no folclore germânico que nos traz sustos, risos e lições à mistura.

 

DIA 21

All the Creatures Were Stirring

A três dias de distância da noite mais esperada de dezembro (para os amantes de presentes, homens de barba branca e do nascimento do menino Jesus cuja data real é discussão para outras núpcias), sentamo-nos no sofá para ver e posteriormente discutir os cinco contos desta antologia de terror cinematográfica.

Agora, vamos tentar não ser grandes críticos de cinema, sim? Vamos só apreciar o filme pelo que é: um bom filme de terror de série B. Não instila muito medo e não consegue criar uma atmosfera de suspense, mas tem sucesso a entregar cinco histórias bastante originais.

Os contos também estão carregados de lições e simbologia, e de longe o meu favorito faz alusão aos riscos das compras de última hora, que é, sem dúvida, tarefa para criaturas corajosas. Eu cá gosto das compras todas orientadas com semanas de antecedência — dispenso horror de última hora.
Não diria para se ver com as crianças ao lado, mas talvez não seja uma má escolha para adolescentes (há pequenos explosivos e uma rena assassina, o que inevitavelmente resulta nuns salpicos de sangue).

DIA 22

Black Christmas

Vou dispensar rever Black Christmas pelo simples facto de que não quero passar a quadra natalícia toda a cantar «Up in the Frat House» (click, click, click… BOLAS!).

Não consigo mesmo cansar-me deste filme, e muitos de vocês provavelmente vão descartar todas as minhas opiniões daqui para a frente. Tenham dó, tenho direito aos meus prazeres culpados.

O filme tem uma pontuação péssima no IMDB, o que se pode dever à desilusão pela reviravolta ou desfecho (que está longe de ser o melhor na história de finais do cinema) ou à mensagem feminista e à alusão aos abusos de poder pelos membros masculinos das fraternidades americanas. Já sei o que vão dizer, mas vejam os ratings e mintam-me na cara dizendo que os homens não deram pontuações menores. Aposto que alguns deles se viram pintados em Black Christmas.

Polémicas à parte, o filme tem Imogen Poots (que, para mim, poderia muito bem ter sido uma herdeira de scream queen depois de Fright Night — outra fixação minha que vamos deixar para depois) e isso é motivo suficiente para merecer 92 minutos do seu tempo.
(E não, ainda não vi a versão original de 1974, antes que alguém se chegue à frente para perguntar.)

Disse que ia sugerir um filme por cada dia até ao Natal, não disse que ia agradar a todos. Aguente-se à bomboca que agora já alinhou nisto e tem de ir até ao fim.

 

 

DIA 23

Better Watch Out

Sim, a noite de Natal está a 24 horas de distância e se, como a sua redatora favorita, isso significa já estar cansado do cheiro a canela mandatório dos preparativos para a ceia e lhe doem os braços de amassar as filhós, faça uma pausa comigo. Sente-se aqui no sofá, vamos ver um filme.

Diria que o filme Babysitter, da Netflix,  teve um caso com o Pai Natal (desculpem) e este foi o resultado, mas Better Watch Out saiu um ano antes, portanto este é que deve ser a mãe disto tudo. Vencedor do Golden Raven do BIFFF de 2017, assim como vencedor da escolha do júri do Fright Fest do mesmo ano, entre muitos outros, Better Watch Out é um filme de 2016 que nos dá a conhecer a babysitter Ashley (Olivia DeJonge) e os seus esforços para proteger Luke (Levi Miller) quando a casa é invadida. Só que… (reviravolta, reviravolta) vão ter de ver o filme.

A história é da autoria de Zach Kahn e o filme é de Chris Peckover, o trabalho dos dois (e de todos os restantes envolvidos) resultando numa comédia negra de alto entretenimento.

 

DIA 24

Gremlins

A ceia de Natal já está a meio da digestão e, enquanto se espera pela meia-noite para abrir os presentes, ou se faz mais um pouco de convívio, por favor, faça-me o obséquio de não sintonizar a televisão na 52.ª repetição do Sozinho em Casa. Um verdadeiro fã de terror só pode ter um filme de Natal favorito, e esse é Gremlins.

Já toda a gente a conhece, mas esta obra-prima de Joe Dante e Chris Columbus merece um lugar especial na noite de Natal, no maior ecrã que tiver em casa. Não me vou alongar muito, até porque ninguém precisa de ser convencido. Se for como um certo familiar meu que admitiu esta semana nunca ter visto Gremlins… olhe, é o que lhe espera. Já que a família está toda reunida, mais vale aproveitar e passar a noite no comboio da nostalgia.

DIA 25

A Christmas Horror Story

As festividades estão quase no fim e não tarda vamos deixar os tons de vermelho e verde pelos azuis, dourados e pretos luxuosos do fim de ano, mas enquanto o espírito ainda dura, vamos a mais uma sessão de cinema. No dia 25, vamos ver A Christmas Horror Story. O filme é de 2015 e tem quase duas horas de duração, mas não se preocupem: é a nossa segunda antologia natalícia e temos cinco histórias para nos entreter. Para mim, esta está de longe mais bem concebida do que a anterior — o melhor fica para o fim.

Os diferentes segmentos intercalam-se uns com os outros, seja em tempo de ecrã seja em personagens partilhadas. Para os fãs de uma certa série de terror que demorou quinze longas e dolorosas temporadas a chegar ao fim (todos nós sabemos quem somos), tenho uma coisa a dizer-vos: a Morte dá o seu vislumbre. Sim, estou a falar do Sr. Julian Richings. Não têm de quê.

O final é surpreendente e ninguém vai estar à espera.  Portanto, aproveitem, entre os comprimidos para a azia dos abusos natalícios e as despedidas dos familiares que regressam a casa, sentem-se no sofá e aproveitem, que as festividades estão quase a terminar.

 

DIA 26

Silent Night

Não sei como são as Festas no seu lar, caríssimo espectador, mas na minha casa duram até dia 26 (pelo menos), considerando que as sobras de bacalhau, açorda, peru, filhós e arroz-doce não se comem sozinhas. Na minha casa, cozinha-se como se fosse para o batalhão inteiro dos Comandos da Amadora, e o Natal prolonga-se por um magote igual de dias.

Para terminar deixo-lhe uma sugestão sobre a qual a Fábrica do Terror já discursou no passado mês de setembro [de 2022], quando Silent Night chegou ao MOTELX. O filme é de 2021, tem um elenco fantástico e uma história para lá de original. Se ainda não viu, aproveite enquanto o azevinho não seca e a casa ainda cheira a canela.

Se chegou ao final, obrigada por decidir partilhar comigo o seu ecrã: que todos os Natais sejam de boa comida, família e amigos e, daqui para a frente, muito terror! A novos costumes.

Agora, vá lá ligar a televisão, tem filmes para ver.