Realizador Eduardo Cruz fala sobre «Dilúvio», menção honrosa no Fantasporto 2022
«Para mim, o coração da curta era um drama que tinha elementos de terror»
Dilúvio, de Eduardo Cruz, foi um dos filmes em competição no Prémio Cinema Português do Fantasporto 2022, sendo distinguido com uma menção honrosa. Conversámos com o realizador, o produtor e parte do elenco desta curta-metragem sobre os desafios de filmar durante uma pandemia e a necessidade de contar a história que falou mais alto.
De Cláudio André Redondo
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Como é que surgiu a ideia para o filme e qual é o teu percurso?
Eduardo Cruz: Entrei na faculdade há quatro anos [em 2018], onde conheci o João [Duarte Monteiro], produtor, e temos vindo a fazer alguns projetos [juntos]. Nada de muito grande, porque para todos os efeitos é a primeira vez que nos estamos a estrear em festivais. Desde muito cedo [que] criámos uma ligação muito grande entre os dois, e foi em 2019, creio eu, que me surgiu a ideia [para este filme]. Inicialmente, [era] esta questão do Sol e de querer que o Sol apareça, e quanto tempo é que se espera e tudo mais. Entretanto, estávamos a preparar-nos para fazer castings e entrámos em quarentena. A ideia foi posta de parte durante um tempo, acabámos por fazer outro filme enquanto não dava para fazer o Dilúvio, uma vez que era preciso uma equipa relativamente grande, sair para um local específico e tudo o mais. Então, [fizemos] outro filme, mais simples, com uma crew e cast mais reduzidos. No final de 2020, começámos a preparar-nos para rodar em 2021 e, passado um ano, aqui estamos nós.
E a ideia para o filme surgiu-te de onde ou do quê?
Eduardo: A ideia surgiu, acho que, curiosamente, quando estava numa aula em que um colega meu [estava] a explicar uma ideia qualquer, e ele estava a falar que no filme dele queria usar [a canção] Here Comes the Sun. Foi isso que despertou tudo, e é um bocado difícil de descrever porque realmente, num espaço de dois, três dias, eu tinha o filme não escrito, mas a ideia completa. Inicialmente, foi essa a ideia. Para mim, o filme, no fundo, é sobre depressão, e na altura, se calhar, quando estava a ter a ideia, ainda não sabia, e acho que foi uma coisa mais subconsciente, um bocado de exploração pessoal que me fez considerar que, se calhar, era isto. Mas, sim, foi um bocado essa a ideia de «será que depois da tempestade vem a bonança, e quanto tempo é que ficamos à espera disso?». Para mim, [esse] é o núcleo da ideia, e o coração do filme está aí, apesar de tocar um bocado noutros temas também.
Ou seja, a chuva representa, de certa forma, os pensamentos mais depressivos e o Sol é a esperança?
Eduardo: Sim, e também vejo a coisa quase como o Céu e o Inferno. Neste caso, o Inferno é a vida. É difícil de pôr em palavras, mas é um bocado isso. Sinto que há muito tempo que não vejo o Sol e, de certa forma, [n]este filme, escrevi um final feliz para mim, porque é preciso não desistir, porque o Sol há de aparecer. Não sei se será o caso, mas pelo menos foi isso que fiz.
E porquê o género do terror?
Eduardo: Boa pergunta. Acho que é um bocado nisso de a depressão ser de terror, ou pelo menos leva-me para aí. Apesar de, ao escrever o filme, obviamente estar a pensar em referências mais a nível do tom, como agora vemos muito a aparecer na América, no renascer destes filmes de folk horror. Achei que pudesse encaixar naquilo que eu estava a querer fazer. Para mim, no entanto, o coração da curta era um drama que tinha elementos de terror. Não é necessariamente algo que eu queira continuar a fazer, ou que queira ficar neste género, mas, do ponto de vista temático, sabia que o terror encaixava mais. Sou muito fã desse terror psicológico, [do] que vem mais de dentro, do que propriamente de monstros ou coisas mais fantásticas, apesar de haver um pouco de elementos sobrenaturais, mas no filme é uma coisa muito toned down.
E de onde é que vem a paixão pelo terror?
Eduardo: Não é que eu tenha uma paixão particular pelo terror, tenho tanto como tenho por drama, ou por fantasia, ou por sci-fi. É uma questão de tempo até [eu] tocar nos outros [géneros], e esta história, para mim, tinha de ter este tom. Mas lá está, não me quero meter numa caixa, não quero ser um realizador do género. Nada contra, simplesmente, para mim, é mais interessante explorar outros géneros. Calhou este filme ser mais virado para o thriller e para o terror, e pode ser uma comédia. Mas o amor vem mais do cinema em si, respondendo melhor à pergunta. Normalmente, como espectador, quando vou ver um filme, não é pelo género.
E o amor pelo cinema vem de onde?
Eduardo: Desde miúdo que via muitos filmes e, a dada altura, comecei a olhar para eles de uma certa maneira. Foi numa altura em que comecei a ver mais cinema, ou pelo menos a ver com mais atenção, ou a ponderar melhor o que é que estava a ver em vez de ser uma coisa mais passiva. Cinema, para mim, não é necessariamente o end goal, não sinto necessariamente que pertenço ao mundo do cinema, mas também não sinto que pertença a outro. É só uma forma de me expressar.
É a vossa primeira experiência num festival? Como é que está a ser tudo isto?
Eduardo: Sim, sim. Fixe. Muita ansiedade, muita ansiedade. Parece que, desde que acordei até agora, foi tudo a correr. Mas é incrível. Acho que, apesar de o ideal ser fazermos os filmes que nós queremos ver e um bocado para nós, no final do dia é uma catarse pessoal. Partilhar com pessoas, sentir-me compreendido, ter oportunidade de mostrar, ainda por cima num festival que já tem tanta história e principalmente no género específico em que este filme se encaixa. Nem consigo bem pôr em palavras. É bom.
E projetos futuros já existem?
Eduardo: Sim, estamos a trabalhar num próximo filme que será produzido pela 868. Já escrevi o argumento e vou realizar também. Estamos agora em fase de pré-produção. Ainda não há muito que eu possa dizer, mas não vai ser um filme de terror, nem um thriller. Um horror existencial talvez, mas é mais moderado.
João, como é que foi produzir este filme? Que desafios encontraste?
João Duarte Monteiro: O dinheiro. Já toda a gente sabe que é difícil produzir em Portugal, sobretudo cá em cima no Norte, [onde] há menos oportunidades. Mas o que não estávamos à espera, e que foi a nossa tempestade, foi a pandemia que nos afetou. Prejudicou-nos em termos de tempo, dinheiro, logística e os gastos adicionais com os testes, as máscaras. A maior dificuldade foi essa. Mas, quando se quer contar alguma coisa, quando se acredita na história, como o Eduardo estava a dizer, não há limites. Nós temos uma história para contar e eu acreditava na história dele, ele acreditava em mim como produtor.
O que é que te fez acreditar na história dele?
João: Ter coração, saber de onde é que ela vem, saber que era preciso ser contada, que fazia falta. E muita influência que o próprio Eduardo me transmitiu, do folk terror, do Ari Aster. Temos esta paixão por cinema em geral, eu tenho principalmente pelo terror, e dissemos «porque não?». Está dentro de nós, é preciso ser contada e contámos.
De onde vem a tua paixão pelo terror?
João: Cresci com os meus primos sempre a contarem histórias de rua como o Zé do Telhado, e eu sinto que o terror chega a sítios mais fundos que outros géneros podem não chegar, ou a emoções mais naturais, mais animalescas. E sobretudo pelo Fantas, porque eu cresci nesta casa. É um orgulho enorme para mim estar aqui. Venho aqui desde que me lembro e é o festival onde eu aprendi tudo sobre cinema e a fazer cinema. Acho que é por causa do Fantas que eu gosto tanto de terror. Por isso, é um culminar estar aqui. É uma oportunidade que nunca vou esquecer.
Achas que é mais difícil produzir terror do que outros géneros?
João: Dentro do que eu já produzi, acho que a dificuldade é a mesma. Acho que o terror é muito desafiante na parte prática, dos efeitos, e de não cair na tentação de assustar a pessoa só por assustar. Não é que os jump scares sejam maus, o uso deles é que se tornou mau. Nós temos dois jump scares no filme, mas não queremos que seja só isso. Acho que o terror é chegarmos ao final do dia, deitarmo-nos na cama e lembrarmo-nos de [determinadas cenas].
O que é que faz uma boa história de terror?
João: Penso que uma boa história de terror precisa ser bem contada, e é preciso ter um fundo de realidade. Acho que o terror é muito mais forte quando é real.
Eduardo: Era mesmo isso que eu ia dizer. Claro que pode ter elementos sobrenaturais e de fantasia. Mas a raiz tem de estar em emoções reais e em temas reais, pelo menos para mim, porque é isso que faz com que, horas depois de teres visto o filme, tenhas isso contigo. É a diferença entre o terror e um susto. O susto é temporário.
João: Acho que o que faz uma boa história de terror é ter equilíbrio, e sabermos que o ser humano tem medo do que não conhece, mas que a realidade também assusta. É o que assusta mais ao final do dia. Acho que é isso.
Filipe Amorim: Eu não me considero propriamente um fã de terror, porque acho que ultimamente é difícil o terror não cair num estilo gratuito e de susto fácil, mas o que acho interessante é o storytelling. Gosto muito de filmes em que chegas ao fim e tens de pesquisar, ou ler sobre ele, porque existem N significados, N interpretações. Neste filme do Eduardo, pela forma como ele falou sobre ele na apresentação, nota-se que é uma coisa que lhe toca. A forma como o João fala, a energia que houve no casting. Acho que isso é muito mais importante do que propriamente um género. Se tiver isso, consegue-se inserir num género qualquer. E eu acho que o interessante nesta história é [que] permite ter vários significados. Para o Eduardo, significa uma coisa; para mim, se calhar, significa mais uma espécie de justiça poética divina; para a Teresa [Vieira], poderá significar outra coisa. Isso é que é interessante. Conseguir inserir isto num género qualquer é o que eu acho mais importante. Neste projeto, o Eduardo pode ter tido um motivo, e a história ser esta, mas eu criei toda uma backstory que, se calhar, não tem nada que ver com o que nós vimos. Mas foi a minha forma de justificar o que estava a acontecer. Eu gosto disto, gosto de permitir esta exploração. Depois, é um filme que tem uma cinematografia [de] não [haver] necessariamente o susto, não necessariamente o terror, mas aquela pausa que há no filme. A pausa ser personagem também.
Teresa Vieira: Acho que o [facto de o] Eduardo ter esta história muito bem formada, na cabeça e no coração dele, [fez-nos sentir] que ele queria contar isto. Tentámos contá-la da melhor forma. Ele ter muito bem definido aquilo que queria contar, a forma como o queria contar, todas essas referências que nós fomos tendo e [onde] é que podíamos dar o nosso cunho pessoal — acho que isso ajudou a que, depois, as coisas funcionassem. Se houvesse uma palavra para definir isto, seria «desafiante», porque foi a vários níveis. Desafiou-nos enquanto atores porque, de repente, havia aqui toda uma carga emocional, e percebíamos que o Eduardo não queria que nós fossemos tão além, para não ficar uma coisa demasiado evidente. A equipa, nisto, também foi fundamental, com o sentimento de dever cumprido, e percebemos isso na satisfação do Eduardo. Ou seja, conseguimos cumprir com aquilo que ele queria, conseguimos contar a história dele através de nós, da forma que ele queria, mesmo tentando dar sempre o nosso cunho. Como o Filipe referiu, ir buscar todas essas referências que, para nós, faziam sentido, para aquilo fazer também sentido.
Como é que foi pré-produzir e produzir isto durante uma pandemia?
João: Foi complicado e tenho muito a agradecer aos atores pela paciência, pelo esforço, pela dedicação e pela compreensão. Como a Teresa disse, além da pandemia, máscaras, distância, [também estava] muito frio. E também agradecer à equipa, aos amigos que foram pro bono para lá, com mangueiras nos telhados, mesmo ao frio, por acreditarem e gostarem de terror, pelo desafio. Pela pandemia em si, foi muito complicado.
Eduardo: Foi numa fase muito preliminar da pandemia. Não havia testes, não sabíamos ainda o que é que havíamos de fazer. Durante cinco semanas, foi um paralelo [com o filme]. Fomos transportados para aquele mundo [do filme].
João: Foi filmado em Vieira do Minho. Ficámos isolados na serra e tivemos apoio de conhecidos lá. Tivemos [de enfrentar as restrições] e também, na altura, precisávamos de autorizações para passar de concelho para concelho. [Durante] toda a pré-produção, chegámos a apanhar neve, foi mesmo complicada toda esta gestão.
E como é que é fazer castings por Zoom?
Teresa: É estranho. Porque, até aqui, isso não existia. Tínhamos sempre as pessoas à nossa frente, alguém que falava connosco, e de repente estávamos a fazer. Porque não é só [falar] para uma câmara, o que, já por si, é estranho, esta nova realidade. É uma coisa que, se calhar lá fora, já é muito comum, e aqui só agora é que começa a ser. E é muito estranho porque não conseguimos sentir nada. Eu não consigo perceber se aquilo que estou a fazer está a ir pelo caminho certo ou não, porque não há reação. Mas tivemos de nos habituar a isso.
João: Acho que uma das coisas boas da pandemia, da nossa tempestade, foi também aprendermos, foi um desafio. Como produtor, aprendi muito e melhorei muito. Lá fora, faz-se mais videotapes e self-tapes, e eu já estou pronto para uma logística muito mais digital. Em termos de tempo, tivemos de fazer em semanas o que normalmente se faz num mês.
Teresa: Foi doloroso, mas não é no mau sentido da palavra. facto de os ensaios serem por Zoom foi muito complicado, porque, apesar de estarmos a tentar já deixar ali alguma carga, é diferente eu estar aqui com as pessoas, a fazer diretamente a cena, do que estar a fazer para uma câmara. Desde o primeiro momento, foi um desafio. Ainda não tinha apanhado um projeto desta dimensão, assim mais pequeno, académico, em que o período de ensaios fosse tão longo. Mas percebemos que foi extremamente necessário, exatamente por todas estas condicionantes. Como íamos depois ter a condicionante do tempo de rodagem, tínhamos de estar muito dentro de tudo. Sabíamos perfeitamente que havia coisas que se iam ganhar só quando estivéssemos lá, no momento. Havia coisas que, se calhar, nos ensaios fizeram sentido de uma forma, mas chegando lá, estando a sentir as pessoas eo espaço, [fazia sentido de outra]. Foi essencial esse período, apesar de ser doloroso por isso, pelas condições. Acho que também tivemos uma boa dinâmica de atores que ajudou a que depois as coisas fluíssem da melhor forma.
Eduardo: Para mim, a pré-produção é a parte mais importante. E principalmente com os atores. Sem essa disponibilidade [para reuniões] da vossa parte, não podia ter feito isso e, para mim, é mesmo muito importante. Quando chegamos ao set, a não ser que surjam imprevistos, é bom que já estejamos todos em sintonia. Queria saber a opinião deles, queria desenvolver, porque, tanto na direção de atores como na escrita do filme, gosto que os filmes tenham camadas. O filme começou com essa ideia, [de] falar de depressão e por aí, mas depois vai tocar em religião e em outros temas. Para mim, é sempre importante [que], quando achamos que já percebemos [o filme], é para ver outra vez.
Filipe: Acho que estamos a ver uma coisa que todos nós tínhamos vontade de fazer, e o Eduardo disse no palco uma coisa engraçada que foi «isto foi a melhor semana da minha vida e a pior semana da minha vida». Pior no sentido em que nós sentimos na pele que queríamos, mas valeu a pena. É o resultado final, é a realização que temos depois de um projeto destes.
Vocês já tinham feito cinema antes?
Teresa: Sim. Já tenho tido algumas experiências em curtas académicas, e depois pequenas participações em coisas maiores.
Este é o primeiro que chega a festival?
Teresa: Não. No Fantas, sim, acho que é. Porque também é o primeiro que eu faço mais dentro deste género.
Sentiste diferenças?
Teresa: Sim. Não é propriamente um género que eu consuma, mas também foi desafiante [por isso]. Era uma coisa nova para mim, perceber de que forma é que eu me conseguia situar aqui e [em tudo] aquilo que o Eduardo estava a dizer das camadas, sem ser demasiado superficial, sem ser demasiado evidente. Eu gostei. Houve ali momentos muito duros e muito pesados.
Filipe: A primeira vez que vi o filme, havia cenas com a Teresa em que me apetecia abraçá-la e dizer «Teresinha, está tudo bem, já passou».
Teresa: É isso! Depois estamos a ver e estamos a lembrar de como foi fazer aquilo, todas aquelas pequeninas coisas que íamos passando, os tempos que eu pedia ao Eduardo quando eram aquelas cenas mais complicadas. Quando ouvisse o «ação», queria estar exatamente onde sabia que o Eduardo queria que eu estivesse, e onde eu também queria estar. Isso também foi bom, porque houve sempre essa conversa, essa abertura, esse respeito. Nesse sentido, também foi um desafio e gostei desta temática, foi nova para mim.
Eduardo: Quando precisava, quando dizia «ação», eles estavam no papel, estavam no momento e trouxeram essa emoção ao filme. Por mais que esteja escrito, é daquelas coisas que, se dizemos, mas não sentimos… Acho que isso estava muito presente nos atores, o trazer essa emoção.
Filipe: Sim, desse género [terror], foi a primeira vez. Depois disso, fiz uma curta, mas esse género nunca tinha feito antes.
Quais foram as diferenças que sentiste?
Filipe: Acho que é tudo diferente, são todos diferentes. Aí, tenho a certeza de que, às vezes, dentro do próprio género, será diferente também. Cada projeto é um projeto, a primeira impressão que temos e a forma como sentimos o guião na pele. Acho que o guião é 70% do trabalho, tanto que não consigo imaginar-me a não ser escolhido para isto. Eu ia ficar chateado com o Eduardo e com o João.
[risos]
Eduardo: Sim, mas é um bocado isso. Para mim, vem sempre da história, vem sempre da emoção, e até cena a cena, dependendo do que cada cena exige. Quando estou a escrever, não gosto de meter as coisas numa caixa, não gosto de pensar que estou a fazer um filme de terror porque depois sinto que há uma espécie de check list que temos de ter para ser um filme de terror ou não ser. E a maior parte das vezes, [isso] é uma limitação que eu sinto, e acho que [os argumentistas] deviam libertar-se um bocado disso. Eu percebo a importância do género. Somos humanos, gostamos de meter as coisas em caixas. Mas acho que, quando estamos a fazer, é deixar acontecer, é focar em cada cena. Se esta cena é para ser engraçada, é engraçada, e se a próxima é para meter medo, é para meter medo, e levo as coisas um bocado assim. Foi muito importante essa questão da reunião para vermos todas as falas, «OK, o que é que a Eva está a querer dizer com isto», e «ela está a dizer isto literalmente ou está a dizer outra coisa mascarada com esta frase». E por aí, a importância também de discutirmos isso.
João: Um dos desafios de um filme de terror é trabalhar com crianças.
Seria a minha próxima pergunta! É muito difícil trabalhar com crianças e animais.
João: Exatamente.
Tu decidiste escolher os dois. Como é que foi?
Eduardo: Lá está, foi difícil, mas, mais uma vez, não tive razões de queixa, porque tanto o César [Silva] como o Spud, que é o cão do filme, [foram] cinco estrelas. O que eu precisava eles davam-me. Nisso, tivemos muita sorte. Realmente, era uma coisa que me preocupava muito, e acabou por ser algo [que correu bem].
Teresa: Mesmo com o César. Se para nós é complicado, para uma criança será muito mais. É difícil para uma criança fazer a gestão de tudo aquilo que se está a passar, de perceber que as coisas não são reais. Nós conseguimos dar essa entrega e percebemos que aquilo não é real. Assim que ouvimos o «corta», conseguimos criar um distanciamento. [Em algumas cenas], ele sabia que aquilo ia acontecer, mas não sabia de que forma, porque nem eu sabia. Foi uma coisa que eu e o Eduardo sabíamos, que eu ia deixar-me levar por aquilo que acontecesse. E, claro, aquilo assustou-o bastante. De repente, houve ali um momento em que quis conversar com ele para ele perceber que [aquilo] não era real. E depois, é a capacidade de as crianças dizerem «OK, está tudo bem».
Eduardo: Vocês integraram-no muito bem, e acho que, sem vocês, não tinha conseguido dirigi-lo tão bem. E muitos props para o Bruno Casimiro, que foi quem fez os efeitos especiais, que basicamente teve de fazer com que ele estivesse imóvel.
Como é que foi a experiência para ti, César?
César Silva: Má.
[risos]
Eduardo: Estou muito orgulhoso dele, por ter vindo ver [o filme]. E não teve medo.
Mas gostaste da experiência ou nem por isso? Não queres voltar a repetir?
César: Não.
[risos]
Eduardo: Mas se for outro filme, se for tipo uma comédia, já repetes?
César: Sim.
[risos]
Eduardo: Pronto, terror foi o primeiro e último.
Carreira curta de ator!
[risos]
César: primeiro e último não. Este é que é o último.
[risos]
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Cláudio André Redondo
Apaixonado pelos livros desde os oito anos. Desde essa idade que sempre se aventurou pela escrita e foi acumulando histórias na gaveta, mas só recentemente começou a contar histórias de terror. É nesse género que encontra, atualmente, o maior prazer de escrever, sentindo por vezes que abriu uma porta para um lugar sombrio de onde figuras negras procuram sair. A gaveta abriu-se, resta saber o que de lá vem.