Recomendações de livros para ler em junho

Uma pergunta que une estes livros: o que é que está a acontecer aqui?

Uma distopia com uma língua ficcional e um assassino com um dom olfativo.

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Madalena Feliciano Santos

Para o mês de junho, trago recomendações de alguns dos meus livros e temas favoritos.

A minha primeira recomendação é o livro A Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, em especial a tradução de Vasco Gato.

Nesta história, seguimos Alex, que é também o narrador, um jovem que pertence a um gangue e que tira enorme prazer em infligir violência a qualquer pessoa, por nenhuma razão em especial, sem sentir quaisquer remorsos. Depois de, com os amigos, protagonizar um episódio que nos deixa uma das descrições mais gráficas e duras de toda a obra, é apanhado. A partir daí, irá fazer parte de uma experiência do governo para lhe eliminar os impulsos violentos, com o objetivo de poder ser libertado e voltar à sociedade.

Uma das principais características desta obra é ter uma língua ficcional. Alex utiliza palavras que Burgess criou através da mistura de palavras inglesas e russas (e que Vasco Gato adaptou para a tradução portuguesa). Pode ser difícil, no início, entendê-las, mas, a partir do momento em que nos habituamos (que não demora muito a acontecer), parece que nos sentimos ainda mais dentro da história e, para melhor ou para pior, dentro da cabeça de Alex.

Digo «para melhor ou para pior» pois uma das características desta língua é ser apenas utilizada por aqueles que exercem e adoram toda esta violência. É uma história que nos leva a pensar sobre o porquê de Alex ser assim, se existe realmente uma cura e se, no final de tudo, conseguimos dizer que o fim justifica os meios.


Acima de tudo, pergunto-vos isto: em que momento da história, se é que esse momento existiu, ficaram do lado de Alex? O que é que isso vos fez sentir? Dá que pensar, não dá?


A minha segunda recomendação é O Perfume: História de Um Assassino, de Patrick Süskind (tradução de Maria Emília Ferros Moura).

Nesta história, seguimos Grenouille, um rapaz que nasce com o grande talento de conseguir identificar qualquer cheiro, mesmo a distâncias consideráveis, armazenando-os no que ele chama o seu palácio interior de odores. Mas, tal como o título sugere, esta capacidade não fica por aí. Grenouille acaba por ficar obcecado não apenas com encontrar o perfume perfeito, mas com fazer o perfume perfeito, custe o que custar, e a sua primeira vítima muito dirá sobre isso.

É um livro que relata a vida de Grenouille desde o seu nascimento e, por essa mesma razão, faz-nos acompanhar o desenvolvimento de um assassino e dos seus crimes cada vez mais hediondos. Ao longo de toda a história, vamos vendo como ele é capaz de manipular as pessoas, como se vê a si mesmo quase como um deus e como fará qualquer coisa para conseguir aquele perfume, aquele odor pelo qual tanto anseia.


É uma obra com tantas reviravoltas que o protagonista parece viver mais do que uma vida. Além disso, o fim é daqueles que nos deixa chocados, por não ser nada o que estávamos à espera, mesmo que possam pensar que já não pode acontecer nada pior. No entanto, também nos deixa a refletir: o que é que Grenouille realmente procurava?


Já que vos deixo com perguntas, além das recomendações, ficamos por aqui. Até porque também não quero aumentar muito a vossa lista para a Feira do Livro de Lisboa. Ou já os leram?