«O Homem Invisível», um filme de Leigh Whannell
É capaz de ser a melhor reimaginação de sempre.
Alguns de vocês devem estar fartinhos de que eu fale de filmes «antigos» — para vós, tenho apenas uma justificação: 2025 está a ser um ano de poucos frutos, ou, pelo menos, os frutos caíram onde eu não lhes chego.
Por esse motivo, a SdN de hoje é dedicada a um filme que já deveria ter sido falado há muito tempo: O Homem Invisível, de 2020.
Ainda me lembro de ser pequenina (não que seja muito mais sábia do que então) e ficar apavorada com o Kevin Bacon cor-de-rosa a fazer mal a animais.
A saga O Homem Invisível (O.H.I.) começou com o romance homónimo de H.G. Wells, que tem a sua primeira adaptação ao cinema em 1993, com inúmeros filmes que lhe seguiram: The Invisible Man Returns (1940), The Invisible Woman (1940), Invisible Agent (1942) e The Invisible Man’s Revenge (1944). Parece que nada muda com o passar das décadas, e há que espremer uma ideia até aos seus últimos centavos.
Atrevo-me a dizer que nunca vi nenhum dos acima citados e escusam de me acusar de ser inculta ou algo do género. Já dei demasiado tempo a filmes anteriores a 1960. Nunca fui fã da moda do vintage e acho que, até para essa categoria, o filme de 1933 já está envelhecido demais.
Reconheço, porém, das poucas secções da película que fui vendo, que terá, sem sombra de dúvida, marcado o cinema de terror na sua década.
Mas é em 1996 que o mais famoso filme de O.H.I. estreia, com Kevin Bacon no estrelato. Vencedor de seis prémios e nomeado para outros tantos, a versão dos anos 90 marcou a minha infância. Não me recordo do ano exato em que vi o filme, certamente antes dos dez anos de idade (vá, Karens, digam lá, «que pais imprudentes») e devo dizer que nunca mais me esqueci. Só voltei a vê-lo na idade adulta e digo-vos: continua a causar-me um desconforto visceral que não se expressa por palavras. Espero que todos já o tenham visto.
Aqui, no entanto, o filme que merece a nossa atenção é o remake (se é que o podemos chamar assim) de 2020.
A carreira de Whannell, na área da realização e escrita, é já extensa e marcada ora por oitos ora por oitentas (i.e. filmes como Insidious e Upgrade vs qualquer um do Saw que não seja o original).
Para mim, Whannell nunca fará nada remotamente tão bom quanto O.H.I. de 2020. E, após esta introdução, vamos nomear porquê:
- Oliver Jackson-Cohen.
Terminei, até à próxima SdN.
…
Estava só a brincar (ou será que não estava?).
É óbvio que o elenco é fantabulástico. Além do homem que retratou o toxicodependente mais amado do terror (Luke Crain em A Maldição de Hill House), O.H.I. conta com a espetacular Elizabeth Moss (The Handmaid’s Tale) e surpresas de menor renome, mas não de menor calibre, como Harriet Dryer e Aldis Hodge.
Mas, muito mais do que o elenco, temos a história. São as camadas, e estas não são as da cebola, apesar de algumas poderem fazer chorar (mas só aos mais fraquinhos de coração e mente).
A forma como O.H.I. foi adaptado para ser uma história totalmente nova e moderna nunca para de me surpreender, e eu já vi este filme pelo menos umas seis vezes. E, antes que digam alguma coisa, está comprovado cientificamente que rever a mesma série ou o mesmo filme é uma estratégia de regulação emocional e de busca pelo familiar, portanto calem-se e aproveitem a 20.ª vez a ver o Friends.
O.H.I. trata, primeiro, de nos envolver profundamente na história da relação abusiva de Cecilia e Adrian, ao começar in media res e acompanhar a primeira numa perigosa fuga do segundo. Puramente credível no horror da violência doméstica, Moss consegue retratar o pavor de uma mulher cuja personalidade e voz foi abafada e que finalmente reúne as forças (e condições) para fugir — porque, sejamos honestos, por mais bonito que o parceiro seja, dizemos um grande NÃO à violência, exceto em filmes. E Jackson-Cohen nasceu para ser o vilão, e eu só gostava que pudéssemos ter visto um pouco mais desse lado.
Depois deste envolvimento, que para mim é palpável desde os primeiros minutos do filme — as personagens chamam e eu vou —, O.H.I. apresenta toda uma trama bem tecida, sem nenhum fio solto. A progressão da história faz-se num crescendo de tensão, com uma reviravolta muito bem pensada, e o filme passa por todos os subgéneros: ficção científica, drama, terror social, suspense, policial, terror das carinhas larocas, e um que deverá, a partir de hoje, ser finalmente considerado um subgénero, o mental health horror (porque soa melhor em inglês).
Veem por que razão gosto? Tem uma pitadinha de tudo, como as melhores pizzas (menos atum).
Gostava de poder discursar sobre todos os frames do filme, mas, como os spoilers nunca são bem-vindos, irei ficar-me por estes detalhes que espero que vos prendam.
E, lembrem-se, tudo o que tem carinhas larocas é para ver.
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Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.