«Finisterra», uma série onde o terror tem raízes portuguesas

A série criada por Guilherme Branquinho teve estreia em 2025 e está disponível na RTP Play.

Os sete episódios de Finisterra falam-nos de superstição, de resistência, de segredos que corroem, manipulam e destroem vidas. E falam-nos frequentemente do Mal que está presente em todas elas.

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Pedro Lucas Martins

Finisterra situa-nos imediatamente no Barlavento Algarvio, no ano de 1943, durante o Estado Novo e no contexto da Segunda Guerra Mundial.

Podia falar-vos das excelentes interpretações de Leonor Vasconcelos (Celeste), de Miguel Guilherme (Veríssimo) ou até da jovem Madalena Alvim (Maria), para referir apenas alguns nomes. Podia elogiar a realização, a fotografia, o ambiente, juntando as escolhas musicais de um coro em igreja que ainda recordo ao escrever este artigo. Podia ainda apontar as subtilezas narrativas que pontuam a série e os detalhes incluídos para lhe conferir maior autenticidade, alguns deles explicados em pequenos excertos áudio no final de cada episódio.

Podia falar de tudo isto, mas Finisterra acabou por me tocar de uma forma um pouco mais pessoal. A série passa-se em Aljezur, onde passei muita da minha infância. Reconheço, por isso, vários dos locais, das referências, dos elementos que caracterizam a paisagem visual, sonora e linguística. Ainda que 1943 esteja distante dos tempos que lá passei na década de 80 e 90, há sobreposição suficiente para me levar de volta.

Como muitos fãs de terror, tenho uma grande predileção por narrativas que exploram o chamado folk horror — o terror em contexto cultural, geralmente obscuro, ligado às tradições e superstições de uma determinada comunidade. Imaginem pois descobrirem uma série com estes elementos, passada num local que vos diga algo, e descobrirem, em adição a tudo isso, que o trabalho foi bem executado. A razão que tornaria este meu parecer tendencioso é também a razão que me levaria a não gostar desta obra se não a sentisse genuína. O que não é o caso. O balanço, como tal, é de grande satisfação.


Esta é uma série profundamente atmosférica, que não se coíbe de usar a linguagem do terror e da tensão para passar mensagens sobre a liberdade, a opressão, as feridas que se herdam de relações familiares e que se exacerbam em relações de poder. O Mal, como é amplamente referido em todos os episódios, pode certamente ter uma interpretação sobrenatural. Mas como sempre, e como aqui se prova, o verdadeiro Mal são as pessoas.


Os sete episódios da série estão disponíveis na RTP Play.