Sustinhos Especial — «A Família Addams» no Teatro Maria Matos
Um musical irreverente para ver até 4 de maio.
Enquanto aguardamos ansiosamente pela estreia da segunda temporada de Wednesday, na Netflix, a Força de Produção apresenta-nos uma história inédita da nossa família preferida. Entre explosões, dançarinos mortos e o famoso estalar de dedos, o amor anda no ar nesta adaptação portuguesa a não perder.
Fotos de cena de Filipe Ferreira
Recomendado para 12+
Num dia em que Wednesday (Brienne Keller) andava descontraidamente no parque a caçar pombos com uma besta, conhece Lucas (Dany Duarte), um rapaz carinhoso e inteligente. Os opostos atraem-se, os jovens apaixonam-se. O facto de Wednesday ser sombria, e ter gostos um bocadinho esquisitos, e de Lucas ser um rapaz normalíssimo, não interessa absolutamente nada. O amor passa por cima dessas e de outras diferenças. Ambos só querem ser felizes juntos.
Os problemas começam, porém, quando os dois jovens decidem dar o nó. Wednesday pretende anunciar esta decisão num jantar onde ambas as famílias estejam reunidas. Para tal, procura a ajuda do pai. Podia Gomez (Ruben Madureira) guardar este segredo sem contar à mãe? Como Morticia (Joana Manuel) tem o péssimo hábito de fazer perguntas constrangedoras, a filha temia o pior no jantar. E podia a família, pelo menos por uma noite, fingir ser normal para não assustar a família do namorado?
Nesta trama que envolve «amor, segredos e situações hilariantes», observamos algumas das nossas conhecidas personagens a agir de uma forma que lhes é pouco característica.
Gomez está num impasse. Nunca tinha escondido nada da esposa e, quando esta começa a desconfiar de que algo estranho se passa, o patriarca vê-se dividido entre manter a promessa que fez à filha e permanecer fiel ao amor por Morticia. Vemos a confiança inabalável deste galã a vacilar. Sentimo-lo até a desesperar em determinados momentos.
Wednesday, habitualmente inexpressiva e desprovida de emoções, oscila entre dois estados de espírito. O lado negro do sarcasmo e da vontade de fazer maldades ao irmão Pugsley (João Maria Cardoso) é, muitas vezes, destronado pelo desejo incontrolável de beijar Lucas, pelo sorriso enamorado e pelas canções de uma adolescente perdida de amor.
A desconfiança que Morticia passa a ter em relação ao marido fá-la duvidar de um amor que sempre foi inquestionável e a equacionar, um dia, ter de (sobre)viver sem ele. Perde, a partir daqui, a seriedade que a define.
Outros elementos dos Addams não se debateram com a problemática de sentimentos que não costumam sentir, nem enveredaram por caminhos novos.
Pugsley esteve sempre a atormentar a irmã e a sofrer os esperados horrores às suas mãos. O tio Fester (Alexandre Carvalho), romântico incurável, manteve a boa-disposição e o péssimo gosto em roupas. A avó (Ana Brandão) continua uma bruxa de gostos excêntricos, com as suas poções mágicas, sem nos revelar a que lado da família pertence. E o mordomo Lurch (Frederico Amaral), com o seu visual Frankenstein-esco, permanece perro de movimentos e a comunicar com sons guturais arrastados.
A mensagem é a que já conhecemos: cada família é única à sua maneira, os valores familiares são o mais importante e não nos devemos envergonhar de ser diferentes. A diferença é, e deve ser sempre, motivo de celebração.
O desempenho forte e cativante de todos os atores e atrizes, principais e secundários, tornaram este musical único e imperdível para qualquer fã dos Addams.
As músicas vibrantes arrastam-nos numa viagem assustadora de emoções e levam-nos a partilhar as alegrias e a empatizar com as dores. No meio de gargalhadas e momentos que nos põem os olhos brilhantes, identificamo-nos com as personagens e sentimo-nos parte da família que conhecemos há tanto tempo.
A Família Addams — o Musical, com encenação de Ricardo Neves-Neves, é sem dúvida uma adaptação explosiva e hilariante da carismática Família Addams, criada pelo cartoonista Charles Addams, em 1938. Conta com Artur Guimarães na direção musical, com a adaptação de canções por Michel Simeão e com a tradução de Ana Sampaio. A cenografia é de Rita Spider, o cenário de Catarina Amado, com Rafaela Mapril nos figurinos.
Podem abraçar as trevas e visitar os antepassados até dia 4 de maio, no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
Os bilhetes custam entre 20 € e 22 € e podem ser comprados online ou na bilheteira do teatro. As sessões são às quintas-feiras às 19 h, sextas e sábados às 21 h, e sábados e domingos às 16 h 30.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.