«The Djinn» (2021)

De David Charbonier e Justin Powell

Nesta Sessão da Noite, acompanhamos a luta do desespero e instinto de sobrevivência de um protagonista infantil contra uma entidade sobrenatural limitada pelas leis do mundo em que vagueia.

Maria Varanda

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De 2021, escrito e dirigido por David Charbonier e Justin Powell (ambos responsáveis por uma outra obra de que falaremos brevemente — talvez), The Djinn é o filme desta Sessão da Noite. Passa-se nos anos 80 e, caso a contextualização temporal não chegasse, a banda sonora indicá-lo-ia sozinha. Retrata um rapaz mudo que carrega injustificadamente a culpa dos acontecimentos do seu passado recente, e que o assombra de forma constante.

Dylan, justamente retratado por Ezra Dewey, muda-se com o pai (Rob Brownstein) para um novo apartamento, talvez numa tentativa de se afastarem do trauma que sofreram. Mas este novo lar também não é ausente de trauma e, habitado pelos segredos e pela morte do antigo proprietário, reserva a Dylan o maior desafio (e a maior lição) que alguma vez terá; lição essa, prestem atenção, que o caríssimo pai lhe dá desde o início. O filme, assim, acaba por encerrar completando um círculo, num ambiente de «conto de advertência».

O título é bastante revelador do nosso vilão: um djinn é chamado ao mundo dos vivos para conceder a Dylan o seu maior desejo; só que tudo tem um preço, e os djinn não são propriamente as criaturas mais honestas do mundo das trevas.

The Djinn traz-nos o terror em primeira pessoa, de uma criança doente e sofrida perseguida por uma criatura que vai assumindo a forma dos mortos, enquanto lhe tenta roubar a vida. Preso na própria casa e sem modo de pedir ajuda, Dylan vê-se na expectável aflição de alguém que não só tem a vida em risco, como a tem em risco devido a uma criatura sobrenatural. E por não ler tudo com atenção.


Na realidade, a história acontece porque claramente Dylan não vê filmes de terror, e não aprendeu que um livro com capa preta de cabedal e com o título Livro das Sombras não é um livro que se leia. Coitado do Dylan. É muita areia para a sua camioneta. Ou será que não?


Nesta Sessão da Noite, acompanhamos a luta do desespero e instinto de sobrevivência de um protagonista infantil contra uma entidade sobrenatural limitada pelas leis do mundo em que vagueia.

Tem falhas? Tem, claro. Mas se, como eu, o leitor gosta de filmes sobre o processo de traumatização de uma ou várias crianças (IT, The Black Phone, The Innocents), de ambientes claustrofobicamente assustadores ou de mitologia variada, The Djinn merece 82 minutos da sua atenção. Veja-o e suspenda o seu crítico interno. Critique numa segunda visualização, se tiver de ser.


E já sabem: não se ponham a fazer feitiços que encontraram em livros dúbios. Lições simples, caríssimos leitores, lições muito simples de sobrevivência. Cumprindo-as, vemo-nos na próxima Sessão da Noite.