Fantasporto 2023: «S.Ó.S.», de Tiago Santos

Nova sessão: 2 de março, às 17 h 00, na sala 2

«Num mundo pós-apocalíptico, em que a rotina dos dias, horas e minutos são a única companhia, um sobrevivente lida com as dificuldades e desafios da solidão, fome e do medo que se impõe, a cada dia que passa, às ameaças existentes. Que ruídos são aqueles que o perturbam na casa isolada? Quem o persegue? Quem persegue ele? Excelente interpretação de Ivo Saraiva e uma realização dinâmica de Tiago Santos nesta primeira longa-metragem rodada na região de Viseu.» 

Maria Varanda

O nosso livro está à venda!

A apresentação que Tiago Santos fez na Sala 1 do Batalha Centro de Cinema deixa o espectador (ou esta espectadora, pelo menos) com a pulga atrás da orelha — o projeto S.Ó.S era inicialmente para ser uma curta-metragem, mas, durante as gravações, a equipa acaba por encontrar potencial na história e transformá-la numa longa-metragem que chegou no passado dia 26 de fevereiro ao Fantasporto 2023.

S.Ó.S é sobre um homem que se confronta com a sua solidão e sanidade num mundo pós-apocalíptico e sobre o medo que o invade perante as ameaças percebidas do dia-a-dia solitário. Parece, de facto, promissor, especialmente com a mudança de planos de filmagem e montagem para longa-metragem. Infelizmente, S.Ó.S não dá resposta.
A história em si tem, de facto, bastante potencial, e com alguns (muitos) ajustes de guião teria oferecido aos espectadores 85 minutos de ligação ao ecrã, mas a longa-metragem é marcada por ruídos, sons e uma banda sonora que se sobrepõe a tudo o resto. Algumas falhas na história e no comportamento da personagem principal (quase a única personagem) poderão ser discutíveis, mas são, a meu ver, bastante claros e difíceis de ignorar.

Ivo Saraiva não consegue transmitir com completa autenticidade o medo e o desfiar da sanidade mental deste homem isolado num mundo moribundo — certamente não é fácil pormo-nos no lugar de algo pelo qual nunca passámos e esperamos não passar. A personagem debate-se com um possível intruso de uma forma pouco natural, e o seu sofrimento e as suas perdas não ganham a devida importância entre a obsessão com os ruídos ensurdecedores e exagerados.

O final parece querer esconder algo, mas sem ser claro — parece assumir-se como final «multicamadas», com várias interpretações, enquanto o filme é, até a esse momento de reviravolta, unidimensional.


Não obstante, os parabéns a Tiago Santos e a toda a equipa envolvida por representarem o cinema português no Fantasporto. O futuro certamente revelará novos projetos. S.Ó.S teria funcionado lindamente como curta-metragem, mas quem quiser ver a versão longa pela qual o realizador optou poderá fazê-lo no próximo dia 2 de março.