«A Mãe às Vezes Tem a Cabeça Cheia de Trovões», de Bea Taboada

Há dias em que sentimos uma nuvem negra a pairar sobre a cabeça.

Na obra de Bea Taboada, as nuvens negras não são os indicadores de má sorte dos desenhos animados, mas a manifestação de um estado de espírito assustador aos olhos de uma criança que não compreende ainda as emoções, as dela e as da mãe. 

Marta Nazaré

Recomendado para 6+

A história começa em jeito de desabafo. Uma menina explica os humores da mãe e como os vê manifestarem-se em fenómenos atmosféricos. Nos dias maus, a mente da mãe fica nublada com o esquecimento e esvazia-se como um balão. Sem nada na cabeça, a mãe descura coisas importantes e repete refeições, como todos os adultos assoberbados com o acumular de tarefas quando as horas parecem não chegar. Noutras alturas, a tristeza chove dentro da mãe, deixando-a sem motivação. Passa o dia no sofá, a chorar, até a tristeza se ir embora. As mães, às vezes, também se vão abaixo; não são de ferro.

Se alguma coisa a irrita, a mãe entra em modo tempestade, e à sua volta ribombam os trovões da sua exasperação. Nesses momentos, explica a filha, nem tolera que ela deixe alguma coisa no prato. Fala alto e cerra os dentes. As mães, às vezes, também desesperam e rebentam. Normalmente, quando transbordam, apanham os filhos de surpresa. São emoções verdadeiramente assustadoras para uma criança que, não sabendo como agir, prefere deixar a mãe sozinha.

A menina desta história tem muito para ensinar às outras crianças, pois apresenta um comportamento muito ponderado e adulto. Sabe que deve dar espaço à mãe para ela se recompor. Sabe que não há chuva que dure para sempre. Depois das grandes tempestades, vem sempre a bonança. Quando as nuvens começam a levantar, a menina vê surgir um arco-íris no horizonte dos pensamentos da mãe, que já canta no carro, tem um sorriso do tamanho de uma banana e criva a filha de beijos. E os beijos da nossa mãe são os melhores do mundo, mais doces do que churros com chocolate ao pequeno-almoço.

Os dias bons trazem a felicidade e o sol. Mãe e filha sentem-se invencíveis, capazes de enfrentar monstros da galáxia com o poder das gargalhadas. São momentos em que os biscoitos de cumplicidade entre as duas alimentam o coração. No fim da história, a menina partilha com o leitor uma descoberta surpreendente que fez com o auxílio de um objeto mágico. Esse objeto mudou para sempre o modo como a menina passa a encarar o mundo das emoções.


A Mãe às Vezes Tem a Cabeça Cheia de Trovões, escrito por Bea Taboada e ilustrado por Dani Padrón, da editora Alma dos Livros, foi finalista do Prémio Algar de Literatura Infantil. Ensina de um modo muito imaginativo, com uma linguagem simples e acessível, a termos empatia pelo próximo, compreendendo as suas emoções além das nossas. Sem sabermos os nomes da mãe e da filha, qualquer pessoa pode identificar-se mais facilmente com as personagens e imaginar-se nestes papéis, mais concretamente nestes «estados de alma».


No fundo, todos temos dias bons e menos bons. O segredo é deixarmos passar os dias difíceis, mantendo-nos resilientes. Num dia a dia cada vez mais desafiador, em que estamos constantemente a ser postos à prova, é importante equilibrar as trovoadas com dias de sol.