«Contos Fantásticos Portugueses», de Noémia Delgado, online
Os sete filmes para televisão já estão disponíveis no site dos Arquivos RTP.
As obras fantásticas de Álvaro de Carvalhal e Mário de Sá-Carneiro, entre outros, ao vivo e a cores, à distância de um clique.
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25.00 € (com IVA)A primeira vez que ouvi falar da realizadora Noémia Delgado foi durante a pesquisa para um ensaio sobre as particularidades da cultura de Trás-os-Montes, que incluíam, obviamente, os Caretos e o Entrudo Chocalheiro. Ao telefone, diziam-me com orgulho que o documentário de Delgado de 1976, Máscaras, tinha contribuído para reavivar (ou legitimar um pouco) uma tradição secular que quase se tinha perdido durante o Estado Novo, porque o regime proibia tudo o que fossem manifestações culturais consideradas pagãs.
Narrado pelo escritor Alexandre O’Neill, casado na altura com Noémia Delgado, o filme poderá inspirar muitos realizadores de cinema de terror português que se queiram aventurar pelo folk horror, que pode nascer destes rituais de passagem à idade adulta. Aviso a quem ainda não viu: é um filme longo (quase duas horas) e um típico registo de antropologia visual, como era hábito da altura.
Voltei a cruzar-me com o trabalho da realizadora no ensaio publicado no livro MOTELX — O Quarto Perdido, sobre os Contos Fantásticos Portugueses, uma série de sete filmes para televisão, de 1981, feitos para a RTP.
Confesso que, em quase 20 anos de MOTELX, tenho falhado as sessões do Quarto Perdido dedicadas a esses filmes portugueses esquecidos. Com esta série da Noémia Delgado, reencontrei-me há poucos dias, graças à colaboração da RTP Arquivos. Duas semanas depois de um e-mail a pedir-lhes mais informações sobre o paradeiro desta série, chegou-me a resposta com esta hiperligação de acesso gratuito, com 13 vídeos (alguns dos filmes foram divididos em dois episódios) que podem ser vistos e partilhados as vezes que se quiser.
Comecei pelos filmes que se baseiam em alguns dos meus contos favoritos (todos integram a Antologia do Conto Fantástico Português): O Visconde (uma adaptação livre, mas muito fiel, do conto Os Canibais, de Álvaro do Carvalhal); A Noite de Walpurgis (Hugo Rocha), O Defunto (Eça de Queiroz) e O Estranho Caso do Professor Antena (Mário de Sá-Carneiro).
Um pormenor a ter em consideração antes de verem esta série: estamos a falar de televisão portuguesa do início dos anos 80; a maioria das atuações é demasiado teatral e quase parece que estamos a assistir a uma peça de teatro gravada. Mas vejam os episódios tendo isso em conta e sem pensar nas limitações da tecnologia da altura. Vejam a série nem que seja para se recordarem (se forem «desse tempo») ou aprenderem que houve uma época em que o fantástico e o terror português chegavam com esta facilidade a um canal de televisão em sinal aberto, dedicado à cultura — sim, mesmo que só existissem dois canais (apenas um, para quem vivia nas Regiões Autónomas); e, sim, mesmo que esta série tivesse passado apenas no «segundo canal».
E, como Manuela Penafria, que assina o ensaio sobre Noémia Delgado no livro editado em 2022 pelo MOTELX, também destaco o genérico de Mário Neves que coloca «[…] o espectador num estado de alerta e suspeição». Depois disso, é mergulhar naquele mundo.
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Sandra Henriques
Autora de guias de viagens da Lonely Planet, estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Sangue (2022) e Dead Letters: Episodes of Epistolary Horror (2023). Em setembro de 2023, contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.