Locais a visitar: Palácio Biester (Sintra)

O Palácio Biester, conhecido como a «Casa das Bruxas» devido aos seus telhados negros e inclinados, foi erguido na Serra de Sintra a pedido do casal Biester, Frederico e Amélia, ambos provenientes de importantes famílias portuguesas. A sua construção terá ocorrido no final do século XIX. 

De: Maria Varanda
Fotos: Cláudio André Redondo

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A história dos Biester é trágica, marcada pelo óbito da única filha do casal, em tenra idade, e pelo posterior falecimento do casal, com cerca de um ano de diferença entre os dois cônjuges. A sua história familiar tem sido distorcida com o passar das décadas, e em cada fonte a informação difere. A maioria foi vítima da pandemia de tuberculose que varreu Portugal há cerca de 150 anos, e o casal Biester terá sido a mente precursora para a criação do antigo Sanatório de Sant’ana (ideia levada a cabo, após a sua morte, pela única herdeira, D. Claudina Chamiço). Também no próprio Palácio Biester, a informação sobre a família é escassa. Porém, apesar do passar do tempo, a bela obra arquitetónica de José Luiz Monteiro permanece, passada de proprietário em proprietário, com obras de requalificação relativamente recentes e, mais recente ainda, a sua abertura ao público como património cultural de Sintra.

Ao longo de todo o Parque Biester, o visitante é surpreendido pela diversidade da flora exótica que encontra nesta bela obra de arquitetura paisagística, como é tão característico de outros parques de Sintra, permitido pelas suas tão bem conhecidas condições climatéricas.


O Parque, por si só, é um deleite para o olhar e mente, uma explosão de sensações e cores.


A lamentar, no exterior, exclusivamente o estado das plantas no interior das estufas, que carecem urgentemente de uma mão carinhosa [para isto, a redatora oferece os seus serviços]. Aconselha-se o visitante a observar todos os pormenores e a conhecer as ínfimas espécies que coabitam este espaço, em particular os amantes da natureza e da botânica.

Apesar da beleza circundante, é o Palácio em si que assume maior importância nesta exploração cultural. Belissimamente conservado, virado para a estrada da Pena, o Palácio Biester ergue-se em toda a sua magnificência.


Como sugerido pelas colaboradoras do parque, comece a visita pelo terraço exterior, de modo a não o negligenciar.


Observe as portadas amarelas em redor de todo o Palácio, a sua cor alegre contrastando com os telhados negros. A vista é surpreendente e o visitante consegue imaginar-se na época, sentado ao final do dia, a apreciar os restantes raios do sol de verão.

O Palácio é constituído por quatro pisos, mas o visitante terá apenas acesso completo ao piso social (ou rés-do-chão) e acessos parciais à meia-cave e ao primeiro piso. Esperemos que, com o aprofundar deste projeto cultural, a visita seja permitida em todas as divisões do Palácio.

Para visitar o interior, ser-lhe-á pedido que coloque proteção descartável de calçado, de modo a preservar o espaço. Trespasse então o duplo pórtico da entrada para a galeria fluida que permite a circulação entre todas as divisões do piso social, símbolo da arquitetura funcionalista de José Luiz Monteiro — verá esta funcionalidade e preocupação com a vida quotidiana em toda a maravilhosa obra do arquiteto.


Não descure os vasos decorativos japoneses do período Meiji e aproveite para conhecer a obra e vida dos três artistas que tornaram o Palácio Biester numa obra única.


À direita, encontrará a biblioteca, onde as pinturas de Luigi Manini abrangem o paganismo e anjos entre medalhões neoclássicos. De seguida, a sala de música teria tido um papel importante para os famosos saraus da época, assim como seria o local onde D. Amélia Biester receberia convidados mais próximos, dada a privacidade da sala. Novamente, repare nos trabalhos de Luigi Manini em torno de toda a sala, partilhando o espaço em harmonia com o trabalho de estuque de Domingos Meira.

A sala de receção dos convidados é a que merece maior destaque, onde se vê com clareza a adaptação do neogótico às necessidades de um espaço residencial. As grandes portadas neogóticas enchem a sala de luz natural, a refletir-se nos azulejos Bordallo Pinheiro que decoram a lareira e acrescentam cores garridas ao espaço. As boiseries de Leandro de Souza Braga, melhor entalhador português dos seus tempos, merecem especial admiração do visitante.

É no átrio das escadas que dão acesso ao primeiro andar que se encontra um dos primeiros ascensores residenciais, todo revestido a madeira e ainda funcionando nos dias de hoje, devido à robustez da sua construção — afinal, a mecânica dificilmente perece, sendo que o peso da capacidade de quatro pessoas seria movido à força de manivela e roldanas, operadas no piso inferior. O visitante terá de tomar as escadas e perder-se nas maravilhosas pinturas e detalhes deste espaço. Arcos ogivais decorativos e uma escultura de um grifo em madeira são mais uma vez trabalhos preservados de Souza Braga. Observe os arautos e outras figuras colocadas nas paredes pelas mãos e mente de Manini.

Ao cimo da escadaria, no arco dos aposentos, é-lhe permitida a vista para o Castelo dos Mouros. À direita, encontrará o longo corredor que dá acesso à área privada da casa, onde se encontram os quartos. Terá apenas acesso ao quarto principal, do casal Biester, onde a vista é deslumbrante. Aí, repare nas pinturas: anjos e outras figuras míticas olham-no de todos os cantos da sala. Um dos anjos parece mesmo seguir o visitante com o olhar.

À esquerda, do dito átrio dos aposentos, tem a belíssima capela, com uma riqueza e uma atenção ao pormenor que indica, sem dúvidas, a devoção do casal Biester à sua cristandade.


Recomendamos que perca tempo a admirar todos os detalhes.


A iconografia que a decora remete para as obras dos Templários, assim como o espaço que se encontra abaixo dela, ocupando a torre do Castelo, na meia-cave: a câmara iniciática. É para lá que se deverá dirigir após a visita aos aposentos privados.

A presença da câmara iniciática remete para a Ordem Templária e contrasta com a capela pela sua simplicidade, símbolo de voto de pobreza. Toda em pedra, inspirada pelos santuários da antiga Jerusalém, dará acesso a estreitos túneis que conduzem aos jardins do Parque. Aqui, o visitante sentirá o peso do silêncio da meia-cave e a renúncia de todas as outras portas cerradas, às quais não poderá ter acesso.

Durante a visita, fomos informados de que, em breve, o acesso será estendido ao interior das salas do piso social, para que o visitante possa deambular nas mesmas. No entanto, nada foi referido sobre a abertura de novas salas. Fica a esperança de que, um dia, seja possível visitar todos os espaços do Palácio.

Não foi encontrada nenhuma informação sobre os rumores dos sete pisos subterrâneos onde se diz reunirem-se os membros de uma sociedade secreta — até porque não passam de rumores. No entanto, a história do Palácio não deixa de ser carregada de eventos fortes, como o falecimento de toda a família Biester e a tristeza que carregam, silenciosamente, as paredes erguidas para albergar uma grande família, cheia de crianças, o que nunca teve lugar.


O casal Biester faleceu pouco tempo depois da construção da sua casa de família, mas o Palácio permaneceu, em sua memória e em memória do trabalho dos grandes artistas que nele estiveram envolvidos.


Recomendamos a visita ao Palácio Biester não só pela sua importância histórica e arquitetónica, mas pela sua capacidade de inspirar a imaginação, em especial para as mentes mais sonhadoras. Visite em dias de semana, se possível, pela maior privacidade. Caminhando pelos antigos soalhos de madeira, envolto no silêncio e sob tetos altos, numa floresta de arte, talvez o visitante consiga, se prestar muita atenção, escutar a D. Amélia a bebericar o chá das cinco na sala da música, ou o revirar de folhas enquanto o Sr. Frederico lê as suas correspondências de maior importância.