MOTELX 2024: Rituais fúnebres, monstros e folclore indonésio

Cinema asiático que continua a surpreender e uma nova reinterpretação de Frankenstein.

O MOTELX atingiu a maioridade em 2024 e, como qualquer jovem adulto, começa de forma muito firme a marcar a sua personalidade.

Há filmes de que estamos à espera (no bom sentido), há filmes previsíveis e que acrescentam muito pouco ao género (mas que mesmo assim vamos ver para confirmar) e há novas formas de contar a(s) mesma(s) história(s) e que nos convencem de que o terror, de facto, não se esgota.


Hoje, partilhamos os filmes que nos encheram as medidas nos últimos dias.


The Angry Black Girl and Her Monster, de Bomani J. Story

Com argumento e realização de Bomani J. Story, The Angry Black Girl and Her Monster (TABGAHM) retrata a adolescente Vicaria e os seus contactos precoces com a morte, que a levaram a acreditar que a morte é uma doença e que a pode curar.

Inspirado no romance de Mary Shelley, TABGAHM é uma versão e reconstrução moderna e inovadora de Frankenstein, girando em torno da representação do terror ainda existente para com a comunidade afro-americana.

Vicaria é a final girl adolescente de TABGAHM, mas cujos planos não são isentos de alguma escuridão, aproximando-a de uma anti-heroína. Repleto de figuras femininas de força, a longa metragem de Story é um hino às mulheres negras.


O filme parece ter um cheirinho a terror jovem-adulto, que contrasta com a grande maturidade dos atores e dos próprios temas abordados. Aponta-se apenas o final muito otimista, mas tal é de esperar num filme de terror norte-americano.


Repete segunda-feira, 16 de setembro de 2024, às 14 h 35

Exhuma, de Jang Jae-Hyun

Esta não é a primeira longa-metragem de Jang Jae-Hyun, e isso nota-se — o empenho do realizador é inegável, em especial quando se sabe que o mesmo obteve a licença de agente funerário e participou em várias exumações para garantir a autenticidade das cenas cinematográficas.

Acompanhando uma xamã, o seu discípulo, um agente funerário e um geomante num trabalho para uma rica família coreana, Exhuma é um filme sobrenatural que retrata a superstição, o folclore e a tradição sul-coreana, assim como os mitos que incorporam a sua cultura.

Apesar de uma duração de 134 minutos, Exhuma mantém o espectador preso ao ecrã em pelo menos 95% do tempo, o que é um feito incrível. Não se restringe a sustos por sobressalto nem propriamente a horror corporal, mas sim a um argumento complexo e bem estruturado que, talvez para alguns, deixe a sensação de que precisariam de ler um pouco da história folclórica sul-coreana para ficarem de mente iluminada ao máximo. Talvez, aí, perca um pouco para alguns fãs de terror.


Com grande enfoque em rituais xamânicos e rituais fúnebres, Exhuma é a correspondência cinematográfica perfeita para quem tenha uma mórbida atração por estes temas.


 Do You See What I See, de Awi Suryadi

Baseado num episódio do podcast de terror mais popular da Indonésia, Do You See What I See traz a história da solitária Mawar e o desenrolar perigoso do seu desejo de aniversário.


Trazendo os jump scares, a sonorização intensa e um pouco de body horror — três elementos que já começam a ser esperados nos filmes asiáticos de terror —, Do You See What I See estende a sua história um pouco para lá do necessário, mas sem perder a originalidade na incorporação do folclore indonésio no seu argumento.