«Bring Her Back» (2025)

Um filme de Danny e Michael Philippou.

Os irmãos Philippou fizeram-no de novo. Temos o melhor filme de 2025.

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Maria Varanda

Esta é capaz de ser das poucas (se não a única) carreira que começou no Youtube e que eu irei apoiar até morrer. Não me julguem. Também tenho os meus defeitos. Apoiar a carreira destes irmãos definitivamente não é um deles.
Danny e Michael nasceram na cidade de Adelaide, no (assustadoramente habitado por aranhas gigantes) continente da Austrália, e aparentemente os insetos mutantes e tudo o que há de horrível na Oceânia deu origem a uma criatividade imensa.
Os irmãos estrearam-se no mundo do terror e da ação no seu canal de Youtube RackaRacka e, em 2022, realizaram a sua primeira longa-metragem, que teve posteriormente o apoio da A24 e foi disseminada mundialmente e chegou ao grande ecrã português no verão de 2023.
Estamos a falar de Fala Comigo (Talk to Me), um filme que rapidamente passou para a minha lista TOP 3 e que revejo quando tenho a necessidade de ficar incomodada.
Logo de seguida, foi anunciado que haveria uma sequela, algo que me deixou num misto de emoções, mas eis que sou surpresa, algures nos meses que antecederam, com os irmãos Philippou a abençoar a humanidade (e sim, humanidade, toda ela) com um novo original.
Toca a eternizar o dia 10 de julho de 2025, que para mim deveria passar a ser feriado.


Bring Her Back chegou aos grandes ecrãs portugueses umas semanas após a sua estreia na América, e prometo-vos que o hype todo que houve nas redes sociais não cobre sequer o que os irmãos nos trazem.


Brincando novamente com as temáticas da finitude humana e do luto patológico, com muito sobrenatural e muito horror corporal à mistura, Bring Her Back traz-nos os irmãos Andy e Piper e os horrores que descobrem na casa da sua nova família de acolhimento.
É um filme que faz um belo jogo de cintura com imensos valores e com pesadíssimos historiais que dão cor e profundidade às suas personagens. Durante todo o filme, a autenticidade com que Billy Barat, Sally Hawkins, Jonah Wren Phillips e Sora Wong representam leva as personagens para lá do ecrã. Tornam-se palpáveis. Tocáveis. Sentidas. Para mim, a linha que separa Andy, Laura, Oliver e Piper de serem reais ou ficção torna-se impercetível com a visualização de Bring Her Back, completamente inexistente no envolvimento com a trama, e duvidável quando o ecrã ficou preto. Parte de mim quer acreditar que existem.
E, se não afirmo isto vezes que chegue, afirmo de novo: o terror é o melhor meio para explorar as questões da saúde mental. Para mim, porque faz a realidade dessa dimensão parecer um pouco menos assustadora quando comparada com os horrores de demónios imaginados e criaturas comedoras de carne humana.


Nesta longa-metragem, essas questões são abordadas com um requinte e uma sofisticação que não são forçados: surgem naturalmente de uma trama genialmente construída. De um elenco excecional. De um trabalho de imagem, cor, luz e som sublime. De uma realização de milhões de estrelas.


O terror permite, como vários já falaram, explorar os nossos medos, as nossas dores e os nossos próprios demónios de uma forma mais segura. Permite processá-los, digeri-los e transformá-los. Diria que, em certas situações, o terror pode ajudar até a mitigar o sofrimento.
Bring Her Back é repleto de sofrimento. Imaginado, é certo, mas tão plausível. Tão real. Tão nosso. Os irmãos Philippou fazem-nos chegar, em 2025, uma história sobre perda, sobre luto, sobre os valores que regem as nossas vidas, sobre famílias (quebradas, escolhidas e reconstituídas) e sobre amor.


Os irmãos Philippou dizem estar a criar um universo próprio, com Bring Her Back a não possuir ligações claras e afirmadas com Talk To Me, mas a ocorrer na mesma linha ficcional. Por favor, criem e façam o favor de nunca parar de acrescentar histórias. Eu estou rendida. Completa e absolutamente horrorizada (o que é um encanto).


As Sessões da Noite estão proibidas de trazer spoilers, pela proteção do bem-estar mental e da privacidade daqueles que gostam de surpresas. Compreendo, mas neste momento odeio todos vocês; há tanta coisa que gostava de discutir sobre este filme e é-me castrador não o poder fazer.
Percebam que este é o primeiro filme do ano (e eu odeio ser realista, mas vai ser filho único, porque bater isto é difícil) que me deixa simplesmente em espanto. É como se toda a minha dopamina estivesse à solta, à mistura com adrenalina, e o meu cérebro está incapaz de o processar. É estar em silêncio, mas a emoção ser tanta que, se abrisse a boca, só gritava. É toda uma tempestade química agradável. Não conheço palavra para tal, mas aqueles que de vós forem neurodivergentes vão entender.
Não podendo explorar todos os segundos deste filme, deixo-vos com umas últimas ideias.
Se este filme não for um sucesso de bilheteira, estamos mesmo a precisar de rever os nossos ideais.
Os irmãos Philippou ocupam, a partir de 10 de julho de 2025, dois dos três lugares do meu TOP filmes. Espero que, em breve, ocupem todos.
Bring Her Back, além de ser, sem sombra de dúvida, o filme de 2025, é um filme de terror que eleva o género sem toda o espalhafato e rebuliço dos «mais clássicos» de elevated horror. Bring Her Back traz um pouco para todos e só não traz algo para aqueles que não pescam nada disto (a estes, perdoem, mas têm muito que aprender).
E, por fim, Bring Her Back ergue-se como o casamento perfeito entre temáticas densas, atuais e profundas, com uma ficção puramente horrível (bela), enquanto simboliza, em simultâneo, a fragilidade da existência e a resiliência e criatividade da mente humana.


Michael e Danny Philippou, um brinde a vocês. Um brinde à vossa genialidade. Um brinde a Bring Her Back. Que, no futuro, ocupem muitas das minhas Sessões da Noite. E que continuem a fazer renascer a beleza no terror.


(E, se me quiserem oferecer uma prop da mão do Talk to Me, tenho um espaço de honra reservado no meu altar.)

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Maria Varanda

Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.

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