«Como Assustares um Monstro», de Tânia Correia
Os monstros que não nos deixam dormir têm os dias contados.
Quando já era muito de noite, uma menina chamada Mimi fez uma descoberta revolucionária. Afinal, os monstros também têm medos. E, enquanto discutiam entre eles as «maldades» que as crianças lhes fizeram, Mimi anotava tudo para depois passar a palavra aos seus amigos.
Recomendado para 3+
Quando éramos pequenos, escondíamo-nos debaixo dos lençóis assim que sentíamos uma presença no quarto. Acreditávamos que, lá debaixo, ela não nos podia encontrar e acabaria por se ir embora.
Também fechávamos os olhos com muita força e contávamos até dez quando essa presença nos tinha detetado e se aproximava. Se desejássemos com todas as forças que desaparecesse, acreditávamos que deixaria de estar aos pés da cama ou ao nosso lado quando abríssemos os olhos.
Estas técnicas, porém, pouco ou nada me ajudaram quando era pequena. Os monstros no meu quarto apareciam e voltavam a aparecer até a luz regressar de manhã. Junto à minha cama, havia sempre um corrupio de criaturas que não me deixavam dormir.
Mais tarde, após tentativa e erro, descobri um método bastante eficaz para prevenir o aparecimento dos monstros da noite: a luz. Desde aí, confiei nas luzes de presença ou em lanternas para os afastar. Lá consegui dormir qualquer coisa. Os meus pais também.
A Escuridão, um dos monstros da história da autora Tânia Correia, até ficou com os olhos vermelhos ao tentar esgueirar-se para um quarto protegido pela luz de presença. Pelos vistos, esta tática parece (ainda) resultar. Até quando?
Mimi, uma menina muito mais corajosa do que eu alguma vez fui, resolveu pôr-se à escuta numa noite em que ouviu os monstros a partilhar experiências e desabafos no seu armário.
«As crianças estão a ganhar», lamentava-se Pesadelo, o monstro mais pequeno.
No grupo onde se encontravam monstros dos tempos dos nossos avós, como o velho Bicho Papão e a Escuridão, todos estavam realmente preocupados.
É verdade. As crianças estão mesmo a ganhar. (Já não era sem tempo!) Não estão a ganhar através da força, mas sim da inteligência. Cada vez que damos um livro a uma criança, e ela o lê, os monstros perdem. Uma criança que lê é uma criança informada. Uma criança que lê tem imaginação fértil, encontra soluções para os problemas nas histórias e, acima de tudo, é uma criança que sonha.
Os sonhos, segundo os monstros do escuro, têm neles um efeito pastilha elástica no qual ficam enredados quando tentam entrar na mente das crianças. Ao que parece, como percebeu Mimi, uma mente fortalecida com ideias desenvolve esta barreira pegajosa que não permite a passagem a criaturas horrendas. As que ainda tentam forçar a entrada acabam por ficar com o pelo tão sujo da substância viscosa que são obrigadas a ter de o cortar. O resultado não é bonito.
É por isso que os monstros não gostam de crianças que sonham.
Como Assustares um Monstro, da editora Oficina do Livro, foi ditado pela Mimi à autora Tânia Correia, que partilha connosco informações preciosas e dicas simples de como combater os monstros à noite.
As ilustrações de cores vivas e pouco assustadoras são de Tiago M., uma ajuda preciosa para melhor podermos identificar os monstros e o que os faz fugir do nosso quarto.
Para ficarem a saber o que podem usar no combate aos monstros noturnos, aconselho-vos vivamente este livro. Além disso, contém a receita do spray das fadas, uma poção horrível que transforma estas criaturas em pedra. Depois, tirá-las do nosso quarto dá algum trabalho, mas vale a pena só para termos sossego.
Ainda incluída neste livro, está uma lista de todos os monstros que nos visitam à noite. Não podíamos estar mais prevenidos do que isto. No fim de contas, saber é poder. E uma criança informada não tem medo de nada.
GOSTASTE? PARTILHA!

Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.