«There’s Something Wrong with the Children» (2023)

Um filme de Roxanne Benjamin

Eu sempre achei que havia algo de errado com as crianças todas deste mundo, mas o filme There’s Something Wrong with the Children só veio reforçar o meu desejo de ser sempre só tia e nunca mãe.

Maria Varanda

O nosso livro está à venda!

Não, Karens e mulheres-mamã deste mundo, escusam de tentar convencer-me do contrário. Não, estar grávida não é uma dádiva dos céus. Não, a maternidade não é um mundo de rosas. E sendo eu quem sou, e vocês já tendo um vislumbre do unicórnio particularmente negro que vos vai escrevendo quinzenalmente, se mudasse de ideias, iria calhar uma coisa ao estilo Rosemary’s Baby, Pet Sematary ou IT (e para os que de vós duvidam, sim, eu deixaria a minha criança lançar barquinhos de papel encerado à chuva ou vaguear por cemitérios de animais no meio do mato).

Brincadeiras à parte, existem muitos filmes que retratam o lado negro e sobrenatural da maternidade e que exageram no quão horrenda a infância pode ser — entenda-se, o quão assustadora uma criança pode ser. Falámos nem há um ano de Huesera; recentemente, de Os Inocentes e, um dia, haveremos de falar do pouco conhecido Stillborn. E reparem: temos crianças mazinhas no IT, crianças assassinas no Children of the Corn e vários filhos de Satanás espalhados pelo mundo cinematográfico. Se ainda não estão convencidos, pensem no quão assustadoras são as gémeas Grady no The Shining. Podíamos perder horas nisto.


There’s Something Wrong with the Children vem brincar com o conceito de changelings de uma maneira, pelo menos para mim, surpreendente. Atenção! Não disse excelente nem memorável. Disse surpreendente. Não se pode negar que seja inovador.


É uma produção Blumhouse e, considerando o sucesso de filmes como Insidious ou Paranormal Activity, um fã de terror vai com as expectativas algo elevadas.

Do elenco, tenho a altear Zach Gilford (Midnight Mass), que, novamente e correndo o risco de gastar esta cassete, deveria ser motivo exclusivo para correrem para o ecrã mais próximo e verem o filme. Mas eu já sei que são um público difícil.

Infelizmente, ao contrário de vários filmes que já discutimos em Sessões da Noite anteriores, o elenco infantil deixa muito a desejar. Por muito boa que seja a ideia da mutação das crianças e o modo como manipulam o adulto que veem como mais frágil, as duas crianças escolhidas não conseguem (a meu ver) tornar a interpretação credível.

A dinâmica entre dois casais adultos e a alteração dessa dinâmica pela presença dos filhos de uma das partes está espelhada no enredo e é, na realidade, o que permite que a história se desenvolva e que tudo corra mal. Existe a eterna e nunca ausente tentativa de persuasão exercida pelo casal com filhos sobre o casal sem filhos: ter crianças é tão lindo, a vida é magnífica, não deixas de te divertir. Sim, sim, e depois a discussão sobre desculpas, medos e irresponsabilidade. Quando o filme atinge o pico, vamos dar razão ao casal sem filhos — eles é que a sabiam toda.

O filme começa com muita expectativa e, a partir do momento em que se começa a brincar com a credibilidade de uma pessoa com patologia mental, a coisa fica triplamente interessante para mim por motivos profissionais (e alguns de vós dirão pessoais também).

Fiquei entristecida quando a história não se agarrou a isso. Na realidade, é no clímax da longa-metragem que a coisa descamba, enchendo a história de clichés e descartando a que deveria ser a verdadeira «personagem final» — feminista para a vida, mas neste caso não precisávamos de uma final girl, mas sim de justiça e salvação para a personagem desacreditada e mais sofrida.

Quanto mais avançamos no filme, mais perguntas se elevam. E não se preocupem (*sarcasmo*) que ficam quase, se não todas, por responder.


Dita tanta coisa, não se deixem levar pela classificação medíocre que o filme tem recebido. Tem certamente muita coisa menos boa, mas que não deixa de proporcionar uns longos minutos bem passados à frente do ecrã.