Crítica a «O Velho e a Espada»

Um filme de Fábio Powers.

Estreou na novíssima secção do MOTELX, Sala de Culto, e está a dar que falar em vários festivais.

Cláudio André Redondo

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Aqueles que, como eu, cresceram nos anos 80 e 90, certamente recordam as idas ao clube de vídeo e os filmes e séries que, devido a limites de orçamento e tecnologia, continham efeitos especiais bastante limitados. Rapidamente nos faziam perceber que estávamos a ver um filme, mas isso não importava — a história, por mais absurda ou exagerada que fosse, permitia que esses efeitos especiais lhe acrescentassem uma certa magia que os tornava parte da obra e ajudavam a que a mesma fosse melhor e mais marcante.


Eram filmes e séries que não tinham medo desse absurdo e exagero. Apenas importava contar uma história interessante e que entretivesse.


Atualmente, a maior parte dos estúdios foge desse tipo de produções, até porque a tecnologia atual permite criar efeitos muito mais realistas mesmo em projetos de orçamentos mais reduzidos. Isso leva a que se procure o realismo mesmo em histórias dentro do fantástico.


Fábio Powers optou por fazer precisamente o contrário. Em jeito de homenagem ao cinema de série B das últimas duas décadas do século XX, decidiu trazer dessas épocas o que de melhor havia e fazer um filme que não só não tem medo do absurdo, ou exagero, como os usa como principal inspiração.


Contando a história de António, que encontra uma espada mágica com quem forma um pacto para salvar a sua aldeia dos monstros e demónios que nela habitam, O Velho e a Espada é um filme que faz do humor uma das suas grandes armas, usando frequentemente piadas e frases bem encaixadas na história. Inspirando-se em filmes como Evil Dead e em séries como Power Rangers, mistura isso com o fantástico e o rural, dá-lhes um pequeno toque de modernidade e, no fim, sai uma obra de excelência que encanta todos os que a vejam.

É um filme que, sem orçamento, é intencionalmente de série B, que usa efeitos especiais que parecem propositadamente mais baratos e que exagera na representação dos atores ao ponto de quase parecerem gente da aldeia a quem pediram para aparecer num filme. E fá-lo tão bem que, em nenhum momento, parece forçado, resultando num filme que facilmente poderá ser considerado um clássico dentro do género.

Com participações de Luís Aleluia, naquele que terá sido o seu último papel, e de João Loy, como a voz da espada, é na interpretação de António da Luz que a alma do filme reside. Um homem da aldeia que cumpriu o sonho de infância de entrar num filme e a quem somente faltou a oportunidade de o ver no grande ecrã, numa sala cheia. Uma perda irreparável que faz com que, a haver uma sequela (que o filme bem merecia), esta venha a ser num formato diferente, como a banda desenhada (ficamos todos à espera).


Como disse João Loy, um ator é alguém que nasce com vocação para representar — e António da Luz era um verdadeiro Ator.