Crítica ao livro «PUSH! An Anthology of Childbirth Horror»
Mais um livro publicado em inglês que conta com a participação de autores da Fábrica do Terror.
Um livro onde todos os contos surpreendem, de tão inesperados e diferentes que são, e que principalmente se afastam daquilo que nos vem à mente quando ouvimos «terror do parto».
PUSH! An Anthology of Childbirth Horror, uma antologia lançada no final de abril de 2025 e à venda na Amazon, conta com a participação de dois autores publicados na Fábrica do Terror, Nuno Gonçalves e Patrícia Lameida.
São 17 contos que surpreendem de tão inesperados e diferentes que são, tanto entre uns e outros e em relação às nossas expectativas enquanto leitores, ao entrar numa antologia descrita como sendo sobre o terror do parto. Cada autor pegou em situações muito específicas, algumas vezes não do parto em si, mas do antes ou do depois, em medos e receios de pais, em expectativas da sociedade e em cenários mais sérios, mais realistas ou até mais bizarros.
E, tal como costuma acontecer em antologias, os géneros de terror que encontramos nos contos são muito diferentes, tal como as vozes e o estilo de escrita, o que pode muitas vezes significar que nem todas as histórias são para todas as pessoas. No entanto, a probabilidade de encontrar pelo menos uma com uma perspetiva de que gostemos também é maior.
O livro abre com o conto «Just Like a Certain Chocolate Egg Toy», de Antonija Meznaric, um ótimo conto para mostrar o tom do livro. Põe-nos à frente dos olhos o problema de todos terem direito a ter voz sobre a situação e o corpo de uma mãe exceto a própria mãe, apresentando o tema de forma bem explícita e, a certo ponto, algo chocante e desconfortável, o que é certamente a intenção.
Segue-se «Dystocia», de Nuno Gonçalves, um conto não muito longo com uma reviravolta que nos deixa de queixo caído e que nos faz pensar: «Será que estou a ler isto bem?». É daqueles contos que surpreendem e chocam ao mesmo tempo.
«Nesting», de Marie Lestrange, é uma história bizarra que segue as perspetivas de duas personagens que dão níveis diferentes de interpretação à história, o que a torna muito interessante e muito fora de tudo o que alguma vez leram.
«Engorged», de Rebecca Burgess, é uma história curta, com um pouco de humor negro, sobre um medo real, com um daqueles finais em que conseguimos quase prever o que vai acontecer, mas, mesmo assim, entramos numa espécie de negação de «não, não pode acontecer».
«Take the Baby», de Peter J. Larrivee, é outra história que parte de um medo muito real, o cansaço dos pais, para uma narrativa sobre o que pode ou não ser real, e «The Animus of Agnes Grishom», de Deborah Coldiron, é gráfico e com uma forte carga religiosa.
«There Was a Number Seven», de Patrícia Lameida, é um dos contos mais sérios e com temas mais fortes da antologia, daqueles que nos conseguem deixar cada vez mais desconfortáveis à medida que vamos lendo. Consegue sentir-se a tensão em cada palavra.
«Don’t Say a Word», de Autumn Weese, é outro que tem uma reviravolta no final que nos faz ver toda a história de uma forma diferente, e «Not Like the Seahorses», de S. E. Howard, é um conto diferente de tudo o que já li, muito bizarro, muito interessante e até algo engraçado.
«The Quickening», de Emma Rose Darcy, liga superstição a temas religiosos, e «A Piece of My Heart», de Ruth Anna Evans, fala sobre até onde os pais podem ir para salvar os seus filhos (literalmente, fisicamente, e mais não digo).
«Proud to Be a Mother», de C. J. Subko, parece acontecer num futuro distópico que não é assim tão distante nos temas que aborda, principalmente no facto de ser crime abortar, mas o toque diferente está no que se estaria a abortar e como esse ser resolve as coisas no final.
Em «Mother Earth and the Terrestrial Birth», de Jacy Morris, sim, a Terra dá à luz. Acho que basta descrevê-lo assim. Depois, vem «The Dry Earth Giveth», de Amanda DeBord, que é outro conto na linha de «dar à luz coisas estranhas».
«Little Fox», de Tory Favro, tem um certo humor no final e deixa-nos a pensar no que irá acontecer a seguir para as personagens (só faço esta pergunta: vão passar o tempo a fazer aquilo um ao outro? Digam-me o que acham quando lerem.)
«The Baby Stopped Crying», de Paul Avery Tindol, é uma história que nos dá vários caminhos de interpretação. Será que os pais estão apenas cansados? Será que não viram o que o filho era realmente?
Por último, «Stillborn», de Sheri White, é o conto mais sangrento e talvez até o mais chocante de todos. Faz um paralelo interessante com o primeiro conto e fecha, assim, muito bem a antologia.
Então? Convenci-vos? Têm coragem de experimentar esta antologia?
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Madalena Feliciano Santos
Madalena Feliciano Santos nasceu em 2001, em Lisboa. A partir do momento em que leu The Shining, nunca mais largou o terror, estreando-se como autora na antologia Sangue Novo, em 2021, com o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha». Frequenta o Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a trabalhar, sobretudo, sobre a tradução de literatura de terror.