Fantasporto 2023: «They Wait in the Dark», de Patrick Rea

Nova sessão: 28 de fevereiro, às 15 h 15, na sala 1

«Amy e o seu filho adoptivo Adrian fogem da abusiva companheira da mãe, Judith. Em desespero para não serem descobertos, os dois refugiam-se numa antiga quinta dos pais de Amy, no Kansas. Em breve, porém, uma força sobrenatural do passado de Amy ataca a mulher. Com Judith por perto, os fugitivos encontram-se encurralados entre os perigos dentro e fora da casa. Uma história com constantes revelações que surpreendem. Boa interpretação de Sarah McGuire no papel da mãe em fuga. Selecção do Frightfest (Londres).» 

Marta Nazaré

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No início da longa-metragem, somos confrontados com uma realidade que, infelizmente, nos é cada vez mais próxima. Juntamente com o filho adotivo, Amy, de aspeto escanzelado, tem estado a dormir em lojas de conveniência e hotéis baratos que o pouco dinheiro que tem pode pagar. Perante este facto, pensamos tratar-se da história de uma família sem-abrigo, mas minutos depois percebemos que o panorama é bem mais grave. Amy e o filho Adrian estão a fugir de Judith, a ex-namorada sociopata, e só lhes resta um lugar seguro: a quinta do Kansas onde Amy crescera e que abandonara depois do pai (já falecido) ter assassinado a mãe. Porém, vazia durante tanto tempo, a casa esteve ocupada ilegalmente por adolescentes que a vandalizaram. Na cave, Amy encontra vestígios de rituais satânicos. Quando o sobrenatural é introduzido, leva-nos a achar que estamos perante mais um filme de demónios. Foi uma agradável surpresa descobrir que não é bem assim.

They Wait in the Dark aborda temas desconfortáveis, mas não de um modo desagradável. Chama-nos a atenção para um passado de abusos sofridos pela protagonista nas mãos de uma mãe tóxica, vindo também ela inevitavelmente a repetir este padrão de violência doméstica, reagindo bruscamente ao filho adotivo ou insistindo que a criança deve aprender a disparar. É notória uma escalada de violência ao longo do filme — violência doméstica na infância, violência nas relações amorosas e violência sobrenatural —, embora nunca chegue a ser impressionável.


Há alturas em que percebemos que o filme é de baixo orçamento, mas tal facto não influenciou a mensagem forte deste argumento. O realizador Patrick Rea conseguiu jogar muito bem com as várias camadas de um melodrama no qual as revelações (algumas mais inesperadas do que outras) se interligam e são uma constante até ao fim. No fundo, é uma história de vingança, mas também de salvação, com personagens bem construídas e cenas emocionalmente complexas. O que nos aguarda no escuro? As consequências do que fizemos no passado.